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Um Talento Diferente


Duda era um lindo esquilinho, dentuço e agitado como todos os esquilos. Mas ele não era feliz. Ele era o filho mais novo de uma família muito grande e, por ser menor que seus irmãos, ficava sempre com as tarefas mais bobas. Ele queria ser como o pai, que tinha grandes dentões e que era capaz de derrubar uma árvore em minutos. Ou como seu irmão mais velho que abria nozes e castanhas com uma dentada, enquanto ele mal conseguia descascar um amendoim. Até suas irmãs tinham mais força na dentadura que ele.
O pior eram as implicâncias. Os irmãos se juntavam para zombar dele:
- O Duda é bacana! Tem dente de banana!
- O Duda é engraçado! É quase desdentado!
Duda ficava muito zangado, mas não podia fazer nada. Por mais que usasse direitinho a escova e passasse o fio dental, seus dentes eram sensíveis e doíam sempre que tentava morder alguma coisa mais dura. Todos achavam que aquilo era só uma fase, que, com o tempo, se resolveria, mas não houve jeito.
Já que não podia ser como os outros esquilos, Duda resolveu que faria outra coisa na vida. Precisava encontrar seu espaço no mundo. Um dia, achou um livro sobre ventriloquismo e ficou empolgado com a idéia de poder falar de boca fechada e ainda fazer com que todos pensassem que era outra pessoa quem estava falando. Ele adorava ver as imagens no livro que mostravam um moço sentado, com um boneco no colo, fazendo o boneco falar.
Assim, Duda estudou e treinou e tanto fez que conseguiu aprender e se tornou o primeiro e único esquilo ventríloquo do universo.
Ele estava ansioso para mostrar seu novo talento ao seu pai, mas o velho esquilo nunca havia se conformado que o filho fosse tão diferente. Ele queria que o filho fosse igual a todos os outros esquilos e estava muito decepcionado com ele.
A mamãe esquilo até queria dar uma chance para o Duda, mas quando viu como o papai esquilo estava aborrecido, achou melhor não ver a apresentação de Duda. Seus irmãos, todos muito atarefados, disseram que não tinham tempo para as bobagens dele.
Duda ficou muito triste e resolveu dar uma volta pelo bosque para esfriar a cabeça.
De repente, ele começou a ouvir gritos e voltou correndo para ver o que estava acontecendo. Uma grande raposa havia pego seu pai e já se preparava para comê-lo, enquanto sua mãe e seus irmãos corriam de um lado para outro, gritando, sem saber o que fazer.
Foi quando ele teve a idéia. Engrossou bem a voz e começou a falar para a raposa, fingindo que era uma árvore quem falava:
- Largue esse esquilo, dona raposa!
- Quem disse isso? Quem falou? - perguntou a raposa, assustada por não ver ninguém ali, só uma árvore meio torta.
Duda continuou:
- Eu sou o espírito da floresta! Esquilos são meus amigos! Solte!
- Que brincadeira é esta? Desde quando árvore fala? - perguntou a raposa, bem zangada.
Ela caminhou até a árvore, achando que ia encontrar algum bicho escondido ali. Deu a volta no tronco pensando que ia conseguir pegar de surpresa quem a estava fazendo de boba e gritou:
- A-há!
Mas, quando viu que não tinha ninguém ali, ela ficou mesmo assustada.
- Dona raposa! Estou avisando! Solte este esquilo ou vai se ver comigo. - gritou Duda com sua voz mais grossa e forte.
A raposa arregalou os olhos, arrepiou os pelos e saiu correndo, deixando o papai esquilo pra trás, são e salvo.
Duda correu até ele:
- Você está bem, papai?
O velho esquilo se levantou e deu um forte abraço no filho:
- Desculpa, Duda! Desculpa se eu não dei importância ao seu talento.
A mãe e os irmãos de Duda se aproximaram e abraçaram os dois.
Foi uma festa! Naquela noite, todos se reuniram para comemorar e ninguém teve coragem de falar mal dos dentinhos do Duda. Afinal, se ele tivesse dentes fortes como os de seus irmãos, nunca teria aprendido ventriloquismo e jamais poderia salvar o papai esquilo das garras da raposa.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 21/03/2011
Alterado em 11/11/2011


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