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Recarregando as Baterias


Cemitério. Caminhava lentamente, seguindo o cortejo do pai de um grande amigo. Uma perda que só me doeu por saber o quanto doía em meu amigo, pois praticamente não lhe conheci o amado pai.
Por outro lado, a presença da indesejada sempre nos convoca a algumas reflexões que, de certa forma, vêm ao encontro de alguns assuntos que eu pretendia abordar.
Quando foi o meu pai quem partiu deste plano, deixando-nos saudosos e tristes, de consolo, além da certeza de que ele já vinha cansado após anos de uma doença degenerativa e incurável, restou-nos a esperança na vida eterna, alento cristão que nos acena como um farol no mais profundo breu.
Era um dia lindo como hoje. Do mesmo modo, ardia no céu um sol festivo, exaltando as cores da natureza à nossa volta. Mas, afundados na escuridão de nossas almas laceradas pela dor, era-nos difícil perceber que o Campo da Esperança, em Brasília, é pródigo em verde e exuberância floral.
E assim acontece sempre. Uma decepção, uma perda, uma frustração, medo, dor, saudade, solidão, frustração... E uma sombra nos embota o olhar, nos impedindo de ver quantas possibilidades a vida ainda nos oferece.
Nenhuma estrada se apresenta viável, nenhuma seara proveitosa. Todos os nossos esforços, toda a nossa atenção está voltada para aquela angústia, aquela aflição.
Nessas horas, é preciso fé, amor próprio, amigos, familiares, paixão pela vida... Qualquer coisa que nos permita avaliar melhor nossa real situação, iluminar nosso caminho, funcionar como a lanterna de nossa esperança em um dia melhor.
Lanternas de verdade precisam de pilhas para funcionar. Lanternas metafóricas também. Devem ser sempre verificadas e recarregadas, para que estejam funcionais quando as trevas de nosso espírito alquebrado se apresentarem. E isso deve ser feito nos dias de luz, de bonança e alegrias. O que, muitas vezes fazemos é, justamente o contrário, sugar-lhes as energias focando seus fachos nos míseros problemas que se apresentam no dia a dia. É como acender uma lanterna ao sol: inútil e dispendioso.
Que tal aproveitar os bons momentos para se preparar para os ruins? Tire o foco dos probleminhas e recarregue as baterias para quando realmente precisar delas...
E fique certo... Uma hora você vai precisar!


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Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Lanterna
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 19/11/2010


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