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Você Quer um Amigo?


Você quer um amigo de verdade, alguém que fará tudo por você, que será sempre fiel e amoroso, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença?
Pois saiba que o seu melhor amigo pode estar esperando por você, abandonado pelas ruas ou recolhido a abrigos, carente de cuidados, atenção e carinho. Precisando muito de alguém exatamente como VOCÊ.
Antes porém de ir à procura dele, que tal conhecê-lo um pouco mais?
Atualmente, existem mais de 300 raças caninas espalhadas pelo mundo, cada uma com suas características específicas. Isso só para falar das raças puras com ou sem pedigree (certificado de linhagem dos animais). Quando ocorre o cruzamento entre animais de raças diferentes (mesmo que ambos tenham pedigree), diz-se que os filhotes são cães mestiços. Não havendo possibilidade de determinar as características predominantes de nenhuma raça específica, são chamados de "sem raça definida", SRD ou vira-latas. Esse apelido tem por origem o comportamento dos cães de rua que, em busca de alimento, reviram latas de lixo. Alguns, bem humorados, denominam os SRDs de Royal Street Dogs (Cães de Rua Reais). Parece nome de raça chique, né?
O abandono de animais não se restringe aos cães SRD. Atinge também animais das mais finas estirpes. Muita gente adquire, até por altas somas, um cão de raça e, por mudanças em seus planos de vida ou, simplesmente, por haver passado o encanto dos primeiros meses do filhotinho, acaba por desistir dele, abandonando-o à própria sorte pelas ruas.
A maior arma dos protetores de animais para combater essa atitude irresponsável ainda é a conscientização. Freqüentemente, são realizadas campanhas pela esterilização em massa. Um cão ou cadela estéril não pode mais ter filhotinhos. Com isso, espera-se uma redução na quantidades de animais que possam vir a sofrer com o abandono. Outra linha de ação visa orientar às pessoas que precisarem desfazer-se de seus animais, para que o façam de forma digna e responsável, com tempo hábil para que ele se adapte ao novo lar. Finalmente, algumas instituições atuam nas denúncias aos órgãos responsáveis contra irresponsáveis que abandonam seus animais à própria sorte.
Existe uma linha de pesquisa que traça o paralelo entre a idade mental dos animais e dos humanos. De acordo com ela, um cão adulto tem a capacidade de compreensão e sentimentos comparáveis aos de uma criança de 3 anos. Há uma excelente propaganda na TV européia que mostra isso de uma forma muito emocionante. Um carro rebocando um trailer trafega por uma bela estrada e a imagem alterna entre a natureza exuberante que circunda a estrada e um interessado garotinho, confiante e feliz, uma bola no colo, sentado no banco traseiro do carro. Ao parar num bosque, o motorista desembarca a criança e chuta a bola longe. O menino vai atrás dela em cena típica de comercial de leite em pó: câmera lenta, um enorme sorriso em seu rosto, o cabelo esvoaçando ao vento, no ritmo de seu trote. E volta à velocidade normal quando, ao pegar a bola e virar-se para voltar, ele vê que o carro está partindo, deixando-o sozinho ali, no meio do nada. A câmera fecha em seu olhar confuso e assustado, até afastar-se novamente, mostrando o momento em que ele, chocado, solta a bola.
Uma outra campanha mostra um enterro. Ao final dele, as pessoas enlutadas vão embora. É quando aparece um cão e se deita sobre a terra fofa do túmulo. O locutor diz: ele nunca abandonaria você. E você? Vai abandoná-lo? Há outras nessa linha. Porém, diariamente, mais e mais animais são abandonados. Muitos são recolhidos a abrigos ou aos Centros de Controles de Zoonoses, locais raramente adequados para a vida dos bichinhos, que precisam sim, de proteção, alimentação, tratamento veterinário, mas, mais ainda, precisam de espaço, lazer e convívio com outros animais e humanos.
A única solução para este problema parece estar mesmo na adoção. Adote, não compre. Amigo não se compra. Com essa temática, várias campanhas têm conquistado espaço na mídia nos últimos tempos. O bom é que essa idéia ganhou espaço e, de uma hora para outra, tornou-se chique a preferência por resgatar um vira-latas em um abrigo para animais a comprar um cãozinho de raça. Várias celebridades aderiram à campanha e exibem seus animaizinhos como se fossem troféus de sua boa índole. Embora a razão seja meio enviesada, afinal, modismos correm o risco de passar, ainda assim, seu resultado é ótimo: adotar e tratar com responsabilidade um animal abandonado livra-o de sofrimento e privações e evita que ele procrie e condene seus filhotes às mesmas condições precárias de vida que tem. E mais: reduzir a população de animais sem donos nas ruas, ajuda no controle das zoonoses e evita acidentes envolvendo os animais.
Na hora de escolher o seu novo amigo, muita gente fica confusa sobre adotar filhotes ou adultos, vira-latas ou cães de raça. Vamos conhecer um pouquinho sobre cada um deles, para tornar essa decisão um pouco mais fácil.
Filhotes são fofinhos, brincalhões e "moldáveis", ou seja, pode-se ensiná-los desde pequenos ao seu modo, evitando possíveis vícios comportamentais. Por isso, eles são mais procurados pelos adotantes. Por outro lado, eles são bagunceiros, destroem coisas e precisam ser educados, o que desanima algumas pessoas. O problema é maior no caso dos vira-latas, pois acredita-se ser difícil prever o temperamento e tamanho do cãozinho quando ficar adulto. Mas isso é apenas um mito. Vários guardiões são unânimes em afirmar: a forma de criação será muito mais determinante que a raça no temperamento do cachorro. Sendo corretamente educado e tratado com atenção, carinho e amor, certamente será dócil e companheiro. Quanto ao tamanho, os veterinários afirmam que por volta dos dois meses de idade, já se detecta alguns indícios do porte do cãozinho. Um deles, é o tamanho das patas e o outro é um ossinho no crânio, chamado crista do occiptal, que é mais saliente em raças maiores.
Os cães adultos esbarram numa maior resistência dos possíveis adotantes. Uma grande vantagem em se adotar um cão um pouco mais vivido é que pode-se imediatamente conhecer seu temperamento, porte e aparência, embora essas características possam mudar após uma adoção feliz. Muitas vezes, um cão muito maltratado por anos de abandono, sarnento, ferido e medroso, após um período surpreendentemente curto de adaptação, torna-se bonito, elegante e um grande companheiro, devido à alimentação, medicamentos, higiene, abrigo e tratamento adequados. Mas, a principal vantagem de se adotar um animal assim é dar a ele uma nova oportunidade de vida, desfazendo tabus que lhe condenam à triste sina do abandono ou de gaiolas em canis.
Reza a lenda popular que os vira-latas são mais inteligentes, mais resistentes a doenças, dispensam muitos cuidados. Diz-se mesmo que são autolaváveis. Até alguns veterinários afirmam que os vira-latas são mais resistentes pela generosa mistura genética, que reuniria as qualidades de várias raças. Não é bem assim. Do mesmo modo que uma mistura genética pode sim favorecer o animal com as melhores características de seus pais, pode também reunir seus piores defeitos. O fato é que cães de qualquer raça ou com várias delas em seus genes precisam de cuidados constantes, alimentação adequada, água à vontade, abrigo, acompanhamento veterinário, disciplina, carinho, respeito e amor. Precisam de estímulos, desafios, exercícios e brincadeiras para desenvolverem suas habilidades
É claro que um animal que passou muito tempo na rua e sobreviveu, é definitivamente, um forte. Por estar vivo, a despeito de todos os perigos, privações e doenças enfrentadas, é muito provável que seja mais resistente e esperto do que um cãozinho que tenha recebido os melhores cuidados desde seu nascimento, caso este venha a ser abandonado ou perdido.
Os animais de raça normalmente são doados rapidamente, exceto os muito idosos, doentes ou de raças estigmatizadas como agressivas (pit bulls, dobermans, rottweillers, mastins e até alguns boxers). Estes, quando abandonados por seus guardiões estão condenados à morte, o que é uma grande bobagem. Como já vimos, se o animal foi criado por donos equilibrados e tratado com respeito e amor, será tão dócil e carinhoso quanto qualquer outro animal.
Ao adotar um animal, seja ele grande ou pequeno, de raça ou não, é importante que a família faça uma adaptação cuidadosa, avaliando seu comportamento diante de cada situação apresentada. É preciso que, até que se tenha total confiança nele, crianças pequenas e outros animais não sejam deixados sozinhos em sua companhia e, mesmo quando acompanhados de adultos, sejam monitorados, para evitar reações bruscas que possam parecer ameaçadoras ao cão. É claro que algumas pessoas adquirem cães visando torná-los monstruosos cães de guarda e, às vezes, até de briga. Depois, porque eles estejam velhos demais para sua "função", porque tenham perdido alguma luta importante ou simplesmente, porque seus donos se cansaram deles, são abandonados à própria sorte ou deixados para morrer em clínicas ou CCZs. Infelizmente, nesses casos, muito provavelmente os pobres animais pagarão pelos erros de seus donos. Sua adaptação apresenta desafios à altura de pessoas muito preparadas, mas não é impossível. Por isso, mais do que estigmatizar esta ou aquela raça é importante conhecer o histórico do animal.
Seja como for, quer você deseje adotar ou adquirir um cãozinho, lembre-se que isso envolve uma série de responsabilidades que não podem ser adiadas ou ignoradas. Ele não é um brinquedo. É, ao contrário, uma vida e, como tal, deve ser protegido e cuidado. E é importante lembrar-se de que esta decisão deve ser para toda a vida dele. É claro que motivos de força maior acontecem para todos, mas lembre-se que eles sofrem com a separação e, sendo inevitável, ela deve ser feita da forma mais humana possível. É responsabilidade sua encontrar uma nova família para ele e certificar-se de que ele terá lá a mesma qualidade de vida que tinha em sua companhia. Procure as cartilhas sobre guarda responsável na internet. Há várias sobre o assunto que irão tornar sua missão muito mais clara.
Priorize a adoção. Dê preferência aos vira-latas adultos que são menos procurados. Se você puder, tiver condição financeira, emocional e tempo, opte por um cão idoso, doente ou com necessidades especiais. Embora seja mais difícil, este animal trará importantes lições a toda a família e não se cansará em demonstrar sua gratidão pela nova chance de felicidade que você lhe deu. Não pense, porém, que seu gesto de adotar um filhote ou um cão de raça será menos nobre. Não é porque eles têm mais chances de encontrarem logo novos lares que eles não merecem encontrar um novo lar e que seja você seu novo companheiro.
Todo cão é um amigão fiel e amoroso, que lhe proporcionará alguns dos melhores momentos da sua vida. Uma coisa, porém, é certa: um cachorro que já soube o que é o abandono ou a vida num abrigo, terá por seu adotante uma adoração e uma gratidão tão grandes que seu olhar terá sempre um brilho extra de encantamento ao ver você chegar.



As fotos representam animais que estão para adoção no site da Proanima em Brasília. Clique sobre a imagem para ter detalhes sobre ele.
Este texto foi produzido com a revisão e apoio da Simone Lima, criadora da Proanima.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 08/07/2010
Alterado em 07/10/2010


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