Ele Caiu ForaHoje é o aniversário de morte do grande Lamartine Babo. Coincidência, pois eu já vinha querendo escrever sobre esse grande músico há algumas semanas, desde que ouvi uma boa seleção de suas famosas marchinhas.
Embora leigo em técnica musical, ele conseguiu produzir verdadeiras pérolas do repertório nacional. Começou a compor aos 14 anos de idade e o grande carnavalesco Braguinha costumava dizer que o carnaval carioca era dividido em duas fases: antes e depois de Lamartine.
Grande alma, Lalá, como era carinhosamente chamado, foi vítima de Carlos Alves Netto que, para conseguir uma foto sua, trocou correspondência com ele por mais de um ano, assinando como uma fã. Quando "ela" tentou cessar o contato, inventando um casamento próximo, ele foi atrás e ficou sabendo da tramóia. Ainda assim, tornou-se um grande amigo do sujeito e chegou a compor com ele uma música para sua cidade: Serra da Boa Esperança.
A genialidade de Lamartine é amplamente conhecida e não pretendo ater-me muito a ela. O que cabe dizer é que ele foi capaz de traduzir da alma brasileira dois de seus elementos mais preponderantes: o sentimento e o humor. E é sobre essa sua característica que gostaria de falar. Lamartine era um gozador. Feio, magro, desdentado, tinha a postura de um nobre - segundo crônicas da época - um sultão orgulhoso de seu harém.
Irreverente, Lalá protagonizou hilárias situações em sua vida.
Em uma entrevista afirmou "Eu me achava um colosso. Mas um dia, olhando-me no espelho, vi que não tenho colo, só tenho osso".
Uma vez, numa agência dos Correios, o atendente bateu com o lápis em morse na mesa, para um colega: "Magro, feio e de voz fina". Lalá tirou o seu lápis e bateu também: "Magro, feio, de voz fina e ex-telegrafista".
Lamartine levava uma vida totalmente desregrada, bebendo muito, fumando, saindo com mulheres diferentes a cada noite.
Um grande amigo, sinceramente preocupado, um dia lhe perguntou:
- Lalá, meu velho! Você precisa acordar!! Quando você vai cair em si?
E ele, sem pestanejar:
- Meu amigo, eu sou tão magro, mas tão magro, que se eu cair em mim, eu caio fora!!
Aos 59 anos, Lamartine, vítima de um infarto, partiu dessa para uma melhor. Partiu, não. Caiu fora como bem apraz a um ex-telegrafista, magro, feio, de voz fina e muito humor.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 16/06/2010
Alterado em 16/06/2010