Amor Proibido
- Eu amo você! - ele disse de repente.
Ela levantou a cabeça, tirando os olhos, pela primeira vez em horas, dos muitos papéis e contas espalhados sobre a mesa. Olhou para ele confusa:
- Como é?
Ele corou. Sabia da insensatez de seu rompante. Mas não podia mais esconder:
- Estou completamente apaixonado por você.
Ela continuou olhando para ele, sem esboçar reação. A afirmação dele era tão chocante, tão inesperada, que ela não sabia como tratá-la. Teve vontade de rir, mas ele parecia tão aflito e ansioso que controlou-se.
- Desculpe-me - ele começou, ante o silêncio dela - eu sei que não devia lhe dizer nada disso... é que eu...
Ela continuava imóvel. Olhando-o fixamente.
- ... desde que você veio trabalhar aqui, tenho lutado bravamente contra esses sentimentos, mas eles foram mais fortes do que eu...
- Que sentimentos? - ela finalmente conseguiu perguntar.
- Eu amo você. Amo sua voz, seu sorriso, seus olhos... seu jeito de fazer contas franzindo a testa e mordendo a ponta do lápis...
- Para... eu...
- Não... por favor... deixe-me continuar. Tudo o que você faz, tudo o que você é... a sua existência... desde que nos conhecemos... até a minha fé que andava meio abalada ganhou vida nova.
- Sua fé...
Ele levantou-se, começou a andar pelo recinto, gesticulando, empolgado:
- Sim! Eu sei... é contraditório. Mas, é a verdade. A minha vida ganhou nova cor, tornei-me um novo homem. E sob este amor, é claro que tudo em minha vida ficou mais intenso, mais vívido, mais...
- Por favor... não diga mais nada. Eu sei que deve haver algum engano. Passamos muito tempo juntos, sua solidão... a minha solidão! Dois solitários convivendo assim, tão proximamente. Mas há tantos impedimentos... Pense bem! Não deve ser mais do que o aconchego e...
Ele voltou a sentar-se:
- Olhe nos meus olhos e diga que você nunca pensou...
- Nunca! Por favor... Eu sou uma mulher casada!
- Casada, Leonor? Seu marido largou você há quase dois anos!
- Sim! Mas ainda me sinto casada!
- Leonor! Não minta para mim! Eu já observei seus olhares...
- Olhares? Oh! Meu Deus! - ela cobre o rosto com as mãos.
- Não precisa se envergonhar, Leonor... O que sentimos um pelo outro é muito lindo. É amor... Não há nada de errado nisso.
- Mas você... você é padre!! - diz ela, visivelmente chocada.
- Não sou.
- Como "não é"?
- Não sou padre. Fui seminarista por muitos anos, mas desisti da batina.
- Mas... mas...
- Sim, eu sei. Rezo as missas, ouço as confissões, dou a comunhão... Mas isso é apenas um disfarce.
- Disfarce?
- Sim, meu amor. Eu estou apenas me escondendo. Meu nome é Max_Cal-X.
- Max... ?
- Isso - responde ele com visível orgulho. - sou um hacker. Depois de meu último golpe preferi me esconder um pouco, sair de circulação, o cerco estava se fechando.
- Você é um criminoso? Matou alguém?
- Não! Não!! Meus crimes são apenas virtuais. Transfiro centavos das contas de correntistas de vários bancos para minhas contas no experior. Ninguém percebe as transferências, porque os valores são muito baixos. Já tenho uma boa grana... podemos fugir daqui, irmos juntos para a Suíça, viveríamos como gente rica.
- E como virou padre??
- Bastou dar uns cliques para me tornar padre no sistema da diocese. Daí, fui indicado a ocupar esta vaga.
- Não acredito em você.
- Mas é a verdade... por favor, acredite em mim...
- Prove!
Padre Aurélio, isto é, Max_Cal-X levanta-se e caminha até a casa paroquial. Volta trazendo um notebook. Abre, liga, mostra-lhe o extrato de uma conta na Suíça.
Leonor sorri para ele e retira do bolso o distintivo da Polícia Federal e uma pistola.
- Max_Cal-X, você está preso.
- Mas, Leonor?!
- Meu nome é Nadir. Agente Nadir.
Na última vez em que se viram, ela era testemunha no julgamento em que ele ocupava o banco dos réus.
A separá-los, pouco mais do que dez metros e a intransponível muralha da lei.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Impedimentos Legais
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 03/05/2010
Alterado em 03/05/2010
Alterado em 03/05/2010
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