A Vida no Xadrez
Vi você jogando xadrez. Fiquei olhando as pedras, divagando, a anos luz de distância da sua intrincada e sempre vencedora estratégia. Este jogo não serve para mim. Imediatista como um cão, não consigo projetar lances em mirabolantes algorítimos para além das duas próximas jogadas.
Continuo apenas assistindo e pensando... na... vida! Será que quem inventou o xadrez, o fez pensando em nós?
Veja se concorda comigo:
O rei seria nosso corpo, a saúde. Enquanto ele estiver de pé, estamos no jogo. Os demais elementos apenas existem para preservá-lo, garantir sua continuidade.
Os peões seriam o trabalho, nossas perspectivas de vida, nossas habilidades e talentos. São vários e podemos escolher aquele que melhor se adeque às nossas possibilidades e necessidades. Também são os primeiros a ser sacrificados em nossas vidas, à medida que fazemos nossas escolhas. As torres seriam os bens materiais, o sucesso, as realizações. Os bispos representam a fé, nossos ideais, nossa evolução espiritual. Tanto bispos quanto torres nos levam longe, mas nenhum consegue atender a todos os nossos anseios, sendo necessários os dois, em movimentos lineares e complementares, para cobrir todas as áreas da nossa existência. Os cavalos são nossos amigos, as pessoas que nos cercam e apoiam. Seus movimentos são curtos, mas versáteis, nada os pode bloquear e trazem alegria e beleza à nossa vida.
A dama representa o amor. Está na Biblia: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, sem amor, eu nada seria" (Coríntios 13,1). É nossa arma mais poderosa, a que mais recursos tem. Perdê-la é meio caminho andado para a queda do rei, o fim do jogo, o temido xeque-mate. E nesta hora, cabe uma lição de humildade: o único recurso para recuperá-la é um insignificante peão.
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Este texto foi um presente para meus amigos enxadristas: Hélio Cardoso, João Antônio da Silva e Stela Ramos
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 15/04/2010
Alterado em 15/04/2010