Eu Só Queria Acertar...



Era tão terrivelmente azarado que seu nome, Gastão*, só podia ser ironia. Não parava num emprego, já ia pelo sétimo casamento, todos os anteriores desastrosamente destruídos, os filhos desandados pelo mundo... Fortuna, nunca conseguiu juntar. Bastava ganhar um trocado para aparecer dívida de igual ou maior valor.
Andava cansado disso tudo. Resolveu dar fim à própria vida.
Numa tarde, aproveitando a saída da mulher, encheu um copo com leite e uma boa dose de raticida. Sentou-se para redigir um bilhete. A caneta não funcionava. Pegou outra. Estourou na sua mão, manchando tudo de azul marinho. Pegou um lápis. Começou, amargurado:
"Minha vida é uma sucessão de erros
Eu só queria acertar..."
A ponta do lápis quebrou. Desistiu do bilhete. Achava mesmo desnecessário. Tomou o veneno, repetindo, em voz alta, a frase inacabada:
- Eu só queria acertar...
Errou, de novo. O raticida, vencido há anos e diluído no leite, tornou-se inócuo.
O máximo que conseguiu foi uma bela diarréia.


*Primo sortudo do Pato Donald (Walt Disney).


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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Só Queria Acertar.
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