Textos


A Saga dos Medeiros nas Bodas do Rapa de Tacho


Nada para os Medeiros é rápido e indolor. Casamento do mano mais novo. Podia ser aqui mesmo, na Santa Rita que dá para ir a pé da casa da minha mãe, mas a família da noiva é de Aracaju. Conseqüência? Toca a Medeirada toda para a capital Sergipana. Não estou reclamando. Foi uma oportunidade de ver o mar, viajar um pouco. Vê lá se conseguiria desenraizar o amado marido do solo sagrado de nosso lar, não fosse um motivo assim, tão especial...

Do mesmo jeito que aproveitei a chance de pôr o focinho para fora de Brasília, meus irmãos também a abraçaram avidamente. E com uma semana de antecedência. Em dois carros, seguiram quatro deles e quatro sobrinhos para Lençóis, na Bahia, onde encantaram-se com as belezas da Chapada Diamantina.

O plano era tocarem viagem para Sergipe na sexta-feira, véspera do casório, chegando a tempo de fazer compras no supermercado e ir nos buscar no aeroporto. Na prática a teoria é outra e a zebra veio a galope passando por cima da bomba de combustível de um dos carros que pifou ainda em Feira de Santana. Resultado, os quatro adultos ficaram com o carro à espera de reparos e os meninos foram despachados de táxi pela seguradora. Quando eu e o marido chegamos, minha mãe, uma cunhada e os três sobrinhos que vieram de avião mais cedo estavam angustiados, à espera deles. Se Murphy criou suas leis para tornar nossa vida um inferno ou só as escreveu a partir da observação do inferno que é a nossa vida não importa. O fato é que o taxista nunca tinha vindo a Aracaju. Perdido na cidade, ficou rodando com a turminha por horas e só conseguiu destripulá-los por volta das duas da manhã.

Abre parênteses, afinal, Nena também é cultura:
Destripular, apesar de parecer um processo doloroso, é apenas jargão do motorista de praça para "desembarcar". Aprendi esta palavrinha feia andando de táxi, naquele radiozinho irritante deles que fica fazendo chamada vinte e quatro horas por dia e mais um pouquinho à noite. Existe no dicionário, mas o Word não reconheceu.
Fecha parênteses.

Os irmãos só chegaram de tarde. Correria na certa, pois deveríamos estar na igreja até às 19h30. Inacreditavelmente, dezesseis pessoas numa casa com quatro banheiros, tudo corria bem e, enquanto eu fazia a maquiagem da minha mãe, os bonitões iam aparecendo. Praticamente só faltávamos eu e ela, que entrou no vestido e virou-se para que eu o fechasse. Olha o Murphy aí de novo: o zíper quebrou-se, ficando na minha mão. Trouxe-a para a luz da cozinha para ver se não havia apenas se soltado. Não. Estava quebrado. Definitiva e irremediavelmente quebrado. Decidimos costurar o fecho o mais discretamente possível. Eu ainda precisava dar um último retoque na minha própria maquiagem e deixei a incumbência da costura com um dos meus irmãos. Ficou bom. Creio que ninguém observou o improviso. Com ela já começando a ficar nervosa, embarcamos para a igreja, os quatro mais fornidos num táxi, com a missão de nos guiar o caminho, os outros doze distribuídos nos dois carros. E toca a seguir o táxi, exceto pelo detalhe de que o taxista não queria ser seguido. Ganhou o mundo à nossa frente, ninguém mais via o sujeito. Graças à mocinha tagarela no GPS que mandava virar a direita, virar à esquerda ou seguir em frente, conseguimos achar o caminho e o taxista que finalmente foi parado pelo meu marido ao ver que havíamos nos perdido. Enfim, chegamos à igreja atrasados, esbaforidos, agitados como bem cabe à família Medeiros. Éramos padrinhos e fomos enfileirados à entrada para o desfile do cerimonial. Se eu contar, ninguém acredita: trouxemos chuva ao nordeste! Desabou o mundo. E viva o brasileiro que ainda consegue fazer piada numa hora dessas:
- Corre, minha gente! Corre, que só de penteado desfeito vai ser um prejuízo de uns quatro mil.
A cerimônia foi dez, a festa vinte! Mandou bem a mãe da noiva que pagou um dobrado para tudo sair assim, nos trinques. Ainda bem que ninguém da minha família deu pitaco, senão era capaz de desandar alguma coisa. Exagero? É, nada! Derrubei minha máquina fotográfica no primeiro dia. Já que não poderia mais tirar fotos, fui guardá-la. Derrubei de novo. Agora a bichinha nem liga. Na hora de fechar a conta da casa alugada tinha uma cadeira velha lá quebrada, o dono quis cobrar, dizendo que fomos nós. Quebrou a cara, que Medeiros é bagunçado mas não é burro!
Eu, furando ondas, consegui mergulhar de cabeça na areia e dei um mau jeito no pescoço. Na hora doeu tanto que bateu pânico. Já me imaginei seguindo o sucesso mórbido do Marcelo Rubens Paiva. Minha cunhada torceu o pé num passeio. O maridão pegou um bronze padrão pimenta malagueta e já está todo descascando. Passei frio no vôo de ida, porque esqueci o casaquinho. Na volta, precavida, peguei uma camisa dele. Passei o tempo carregando a peça de vestuário. Fez calor nas duas etapas da conexão e, óbvio, no aeroporto de Salvador onde ficamos plantados porque o segundo vôo atrasou mais de uma hora.
Achou pouco? Então, adivinha onde está o carro do meu irmão agora!
Ganhou um doce de jiló diet quem respondeu que está novamente parado na mesma oficina em Feira de Santana, à espera da mesmíssima peça trocada na ida, e que bichou novamente na volta.
É mole ou quer mais?

*****
Na imagem, a alegria dos noivos. Apesar de tantos contratempos, foi uma viagem ótima e tudo o que desejamos é toda a felicidade do mundo aos dois.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 27/01/2010
Alterado em 27/01/2010


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