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Eu Era Virgem (causo - humor)
Tinha medo, achava que não ia gostar, que podia arder, doer. Achei que todo mundo ia saber, comentar. Achei que, depois da primeira vez, não poderia mais viver sem.
E assim, adiei ao máximo. Resisti a muita insistência, tantos argumentos para me seduzir. Foi só com o casamento marcado, tudo certinho que eu cedi. Ainda rodeei um pouco, cheguei atrasada e já pedindo cuidado. Avisei:
- É a minha primeira vez.
Ele sorriu, encabulado. Prometeu ser carinhoso. E cumpriu a promessa. Começou a separar as madeixas e foi passando aquele creme fedorento nelas. Garantia que eu iria gostar do resultado. Jurou que havia escolhido uma cor bem próxima à cor original do meu cabelo. Seria só para disfarçar os brancos, homogeneizar um pouco. Depois, mais tinta para fazer o tal do efeito "mechas". Afinal, cabelo curto não permite muita opção de penteado e não dá para ser madrinha no casamento do meu irmão com esse cabelinho sem graça.
Meus medos foram um a um sendo derrubados. Não ardeu, não doeu e terminado o serviço, assim que pude avaliar a dimensão da minha loucura, observei que, realmente, a cor é praticamente a mesma. Conferi com alguns colegas. Nenhum conseguiu perceber diferença. Gostei. Isto é, é meio esquisito pagar uma grana num salão para sair de lá exatamente com a mesma cara que tinha ao entrar, mas pelo menos não desgostei.
Enfim, cheguei à conclusão: assim como a perda da virgindade propriamente dita, perder a virgindade química do meu cabelo teve o mesmo efeito no meio em que vivo: se eu não contasse, ninguém notaria.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 20/01/2010
Alterado em 09/02/2010


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