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Resolução de Ano Novo: Esquecer Você

Ela apareceu-me chorosa. Mais uma decepção amorosa protagonizada pelo mesmo canalha de sempre. Tive vontade de imitar a hiena do desenho animado: "mas eu te disse, não disse? eu te disse!". Em respeito à sua dor, calei-me e prestei-me a ouvir a eterna ladainha do desencanto, da tristeza, da raiva... tudo isso misturado a tanto amor e paixão que a cada colher de fel destilada, ela juntava três de mel. Haja pâncreas para processar tanto doce. Estava na cara: assim que ele aparecesse com a sua cara de cachorro pidão arrependido, ela o aceitaria de volta.
Fiquei me perguntando. Por que, mesmo depois de tantas decepções, não conseguimos esquecer e superar um grande amor? Lembrei-me do filme "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", que conta a história de um rapaz cuja namorada, frustrada com a dificuldade em fazer o relacionamento dar certo decide submeter-se a um tratamento experimental para apagar todas as lembranças relativas a ele de sua memória. Desiludido por ainda amar alguém que quer tão fortemente esquecê-lo, ele decide também apagá-la de sua vida, mas durante o processo, arrepende-se e inicia uma alucinada corrida em sua mente, entre lembranças e fantasias, na luta por escondê-la, salvá-la do esquecimento.
Pensei que, se este equipamento realmente existisse, seu inventor ficaria mesmo podre de rico. Poder apagar da memória alguém que lhe causou tanta dor é uma libertadora opção, pela qual muita gente pagaria pequenas fortunas de bom grado. Acontece que, sem combinar com o adversário, o placar desse jogo pode não ser o esperado. Imagina essa minha amiga, mente limpinha, livre do patife. De repente ele aparece. Ela não o reconhece o que a torna um desafio mais interessante para ele e, o que é melhor, também não tem mais as lembranças dos seus defeitos, suas artimanhas e armadilhas, reconquistá-la será ainda mais fácil. Logo, logo, ela irá precisar da máquina do esquecimento outra vez.
Tem mais um detalhe. No filme, torcemos para que ele consiga vencer a máquina e preservar suas lembranças. Sabemos que nosso passado faz parte de nós e merece ser tratado com carinho. Depois do amor enterrado, os bons momentos tornam-se uma doce saudade, um poder olhar para si e reconhecer ali a história de um grande amor. Melhor seria uma máquina capaz de matar só o sentimento que nos aprisiona.
A boa notícia é que esta máquina existe e se chama amor próprio. É por meio dela que, não esquecemos, mas superamos um amor destrutivo e cruel. Com a vantagem de que a superação é muito melhor que o esquecimento, pois nos permite o discernimento que a falta de lembranças não permite. O que não podemos é, como no filme, sabotarmos o funcionamento dela, confundindo memória e fantasias na esperança de proteger nosso algoz do ostracismo, porque fomos ensinados a acreditar que um grande amor deve mesmo durar pra sempre. Mesmo que doa. Se pensarmos bem, sofrimento eterno é a descrição do inferno. Amor existe para nos fazer felizes. Se não está funcionando, mata, enterra e parte para outra.
O único amor que não pode nunca morrer é o amor por nós mesmos.

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Imagem pinçada na Internet.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 28/12/2009
Alterado em 31/12/2009


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