Quem Disse que Eu Levo Jeito? Mas... Seria Isto um Drama de Amor?
"Por mais que procure entender
A tua razão de ser
Ruíndo se vão as tentativas e
Insólita a vida se torna
Levada por uma sensação de vazio
Imposta por tua presença ausente"
(Por Mais que Procure Entender - Zélia Maria Freire)
Enquanto o rádio embala minha insônia com canções quase tão tristes quanto eu, penso em você e neste meu amor sem eco. Isabella Tavianni sofre "Mas eu aqui, largada Num canto desse apartamento. Eu choro mais, eu choro menos, tanto faz, você, você não vem mesmo". E eu sofro junto com ela. Eu, que tenho apenas a sua saudade como companhia. Eu, que vivo à sua espera, tal uma extemporânea Rapunzel presa no alto da torre, a cultivar longas tranças que permitam acesso a um príncipe que nunca virá. Ou então virá. E é por isso que espero. Lançar-me-á galanteios e olhares lânguidos. Conduzir-me-á pela mão por sonhos de felicidade a dois tão doces quanto irreais. Depois, sairá às pressas, sempre tão ocupado, tão cheio de afazeres e preocupações. Não... não tente se explicar. Sei o quanto sua vida é complicada. "Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor", canta Chico Buarque, em consonância ao meu pensamento. Concluo que estamos mesmo fadados a rodar em círculos, numa completa dessincronia de sentimentos e anseios. "Eu me ofereço inteira e você se satisfaz com metade", agora explica Paulinho Moska. Você se dá pelo meio e eu quero a unidade. Queria ocupar seu pensamento como você domina o meu. Queria seus beija-flores no meu jardim, que cultivei viçoso só para você. Mas você não vem. E as rosas do meu desejo morrem à míngua, diante da sua indiferença.
Procurei meu espaço na sua vida... Encontrei um vão onde sua vontade de mim se esconde, entre tantas outras paixões. Muito pouco para alguém cuja vida você dominou por completo. Sei que não importa eu merecer mais. Mais não há. O que você tem para me dar já deu. O que viríamos a ser, já somos. E é muito pouco diante da intensidade deste meu amor. Isto eu não quero mais, não posso mais. Não venha mais, vá embora de vez. Quero me desvencilhar de você, quero gostar mais de mim, quero odiar seu cheiro, seu jeito, você.
Tudo decidido, tudo desistido e a última coisa que ouço antes do sono enfim me devorar, é Elis Regina:
"Pra mostrar que ainda sou tua, até provar que ainda sou tua".
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Este texto de ficção foi fruto de um brincadeira com a amiga e recantista Zélia Maria Freire, em que fizemos uma troca de mote: ela publicou um causo de humor. Veja o texto dela. Está bem divertido:
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1863188
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 13/10/2009
Alterado em 01/08/2010