Tim chegou cedo. Sorriu e a cumprimentou com um aceno de cabeça, antes de ligar o computador e começar a trabalhar.
Todo dia era a mesma coisa. Os dois sentados lado a lado, cada qual cuidando de seus afazeres e Tim já não suportava mais silenciar em seu peito o segredo que insistia em querer revelar-se. Quando a via, seu coração parecia querer saltar pela boca, já havia ensaiado mil vezes a melhor forma de contar-lhe tudo mas nunca surgia uma oportunidade, ou quando esta aparecia, sua timidez falava mais alto e ele recolhia-se, indefeso.
Ao final daquela manhã, ele estava novamente decidido a contar-lhe tudo. Não poderia mais viver com aquele segredo.
Olhava para ela, como hipnotizado, pensando na melhor forma de lhe dizer o que lhe ia ao peito, quando ela percebeu e o surpreendeu, encarando-o inquisidoramente. Intimidado, ele disfarçou, fitando novamente o monitor do micro. De repente, encheu-se de coragem. Levantou-se e caminhou até a mesa dela. Puxou uma cadeira, sentou-se ao seu lado, bem pertinho.
- Preciso te dizer uma coisa. - disse ele, com a voz sumida.
Ela sorriu:
- Claro. Pode dizer.
Ele pegou as mãos dela entre as suas. Ela exclamou:
- Nossa! Que mãos geladas! Tá nervoso?
- Um pouco... Espera... Deixe-me falar... - balbuciou - Eu preciso dizer isso há semanas, mas não sabia como. E é algo que eu não posso mais esconder.
- Está bem, está bem... acalme-se... - dizia ela, agora segurando as mãos dele nas suas.
Estavam muito perto um do outro. Ela podia sentir seu perfume suave e cítrico. Gostava dele, do jeito tímido dele. Sentia-se poderosa diante desse homem tão inseguro. Estava saboreando cada segundo desse silêncio torturado dele. Esperou pacientemente enquanto ele tomava fôlego para continuar a conversa.
- Sabe? Você sempre foi uma pessoa muito especial para mim.
- Oh, Tim!
- Pois é! E é por isso que eu precisava falar com você... Eu estou me demitindo, hoje. Consegui uma vaga em outra empresa.
- Mas... Por quê?
- Porque estou apaixonado... Não posso continuar aqui... - disse ele, sentindo o rosto afoguear-se.
Ela sentiu o coração agitar-se no peito, mas esforçou-se para fingir surpresa:
- Apaixonado? Mas, por quem?
- Pela Deise do almoxarifado. Estamos namorando há quase um ano e vamos nos casar. Queria que você fosse nossa madrinha.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "O Segredo"
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