Rir Faz Bem (cotidiano - humor)
No princípio era o drama. Neanderthais representavam em danças tribais à volta das fogueiras, as situações do dia a dia, como forma de celebrar suas pequenas vitórias e também os reveses. Com o tempo, essas interpretações transformaram-se em rituais que tiveram seu maior expoente no Egito.
Na Grécia, por volta de 500 a.C. surgiram as primeiras manifestações dramáticas artísticas. Mais especificamente a tragédia. Grega, obviamente. Em homenagens a Dionísio, surgia o teatro, com direito a máscaras, coro e catarse. E gente sofrendo até não mais poder.
Depois, percebeu-se que o riso também era catalisador das bençãos e lições que se pretendia alcançar e teve início a geração dos comediógrafos.
Novas ondas culturais surgiram, o teatro romano, japonês, inglês, francês, italiano, americano, brasileiro... teatro de revista, teatro do absurdo, de vanguarda, óperas, musicais, de fantoches, psicodramas... e, finalmente, o rádio e o cinema... Os irmãos Lumiére viam em sua invenção um fim científico, mas um mágico francês chamado Mièles conseguiu perceber a riqueza desse recurso e foi o primeiro grande produtor de filmes de ficção.
Em todas as épocas, do teatro ao cinema, buscou-se atingir o gosto do público, tanto nas produções sérias e reflexivas, quanto nas comédias. Houve a época dos grandes dramas, houve o tempo das chanchadas e nomes como Shakespeare e Chaplin ora esmeravam-se em fazer rir, ora em emocionar. Enquanto na Europa o cinema primava pela arte, nos Estados Unidos, a maioria esmagadora dos produtores buscava atingir o grande público. Um público muito mais afeito ao humor, a guerra e ao amor do que aos mirabolantes enredos psicológicos. Comédias. Paródias dos filmes policiais, paródias dos filmes românticos.
Se não dá para chorar nem torcer pelo mocinho, vamos rir... dos mocinhos, dos bandidos, de nós mesmos. Eu, piadista que sou, é claro que adoro esta opção. Prefiro mesmo os temas leves e divertidos. Mas não sou muito fã do humor escrachado, o dito besteirol. Gosto do humor sutil, do pequeno riso inesperado, que não prejudica em nada a história...
Deve ser difícil acertar na medida. Nos últimos dias, vi alguns besteiróis românticos. Não. Não é comédia romântica. É besteirol mesmo, no melhor estilo pastelão. Daqueles em que é possível até dar umas boas risadas, mas tem horas em que o nonsense torna-se irritante.
A indústria do cinema certamente tem público pra isso. Talvez seja uma forma de tornar menos melosos os filmes de amor preferidos da mulherada, tornando-os suportáveis aos homens. Diz a piadinha que, para agradar aos homens, o filme deve ter muitas mortes violentas. Para as mulheres, basta que uma única pessoa morra, do início ao final do filme...
O problema é que, nesta ânsia de agradar a vários públicos diferentes, surgem algumas verdadeiras aberrações. Uma delas foi 300 de Esparta. O filme conta a história da batalha das Termópilas, onde trezentos soldados espartanos conseguiram deter mais de cem mil soldados persas por três dias, evitando a queda de Atenas, que representaria o fim da civilização ocidental. Óbvio que, ao final, eles foram todos mortos. É uma história sangrenta, bem ao gosto dos rapazes. Mas, para agradar também às meninas, apresentou-se um Leônidas humano demais, apaixonado pela esposa, esta também uma mulher forte e corajosa. Meloso. Chato, com seus dramas psicológicos, romantismo exagerado e sangue e lutas por todo lado, uma patética tentativa de agradar a gregos e goianos. Taí. Os ingredientes perfeitos para uma verdadeira comédia...
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 18/08/2009