No Meu, Não!! (humor - causos)
Continuando o texto de ontem sobre trotes e pegadinhas...
Ele foi buscá-la na faculdade. Deixou o carro estacionado e encontrou-a no saguão. Fizeram um lanche no shopping próximo e, ao chegarem ao estacionamento, ele começou a maior encenação:
- Roubaram o carro, amor! E agora?
Ela ainda tentou ponderar:
- Mas tem certeza que parou aqui? Será que não foi mais pra lá?
E tentava vislumbrar todo o pátio, sem conseguir enxergar o grande utilitário vermelho. De repente, ele teve a idéia:
- Vamos! Vamos procurar ajuda. Vamos pegar qualquer carro aqui e vamos para uma delegacia!
E, sem dar chance de resposta a ela, enfiou a chave no carro novo que havia comprado.
- Tá doido, meu amor... Não vai mexer no carro dos outros!! Que idéia! – ainda alarmou-se ela, antes de perceber a pegadinha.
Bichinho que sofre é estagnário, ops!, estagiário. Eu sou da época do cartão perfurado para entrada de dados no computador.
Abre parênteses.
Para quem nasceu depois da invenção do CD, vai a explicação: antigamente, os computadores ficavam reclusos em salas refrigeradas. Para falar com eles, cartões de papel, perfurados em máquinas parecidas com as de escrever e... Nada disso! Nem me peça! Me recuso a explicar o que são máquinas de escrever! Se você também não sabe o que são, procure no Google. As perfuradoras eram parecidas com as máquinas de escrever, mas eram maiores e mais barulhentas. Cada linha de programa ou de dado era convertida em um cartão.
Fecha parênteses.
Deixaram uma pilha enorme de cartões numa posição bastante frágil e, à passagem do estagiário, recém contratado, deram um jeito de derrubá-la, fazendo-o pensar-se culpado. Disseram-lhe que seria necessário reordená-los, pelo numerozinho impresso no cantinho. Depois, ele ficou sabendo que, para aquele programa especificamente, bastava encontrar os cartões de início e fim da pilha. Os demais poderiam estar em qualquer ordem.
A crueldade humana é tanta que tem lugares onde toda a empresa se une num trote. Mandaram o estagiário à tesouraria, buscar um disco rígido. Assim que o rapaz entrou no elevador, ligaram para a tesouraria, dando notícia da brincadeira. O pessoal de lá arrumou uma bateria de caminhão e botou na mão do garoto. Quando ele ia saindo, disseram-lhe que precisava passar no almoxarifado para pegar suporte da impedância e de lá já ligaram para o almoxarife que arrumou mais alguma coisa para o menino levar. E assim, o rapazote andou o prédio inteiro, carregado de tralhas, até ser mandado de volta à informática.
Gosto de trotes. Mas acho que é preciso medida na brincadeira. Na TV e, agora, na Internet, pululam as tais pegadinhas. Algumas são bem originais e interessantes. Não tenho muita paciência de assistir, porque acho que eles repetem muitas vezes o mesmo golpe, com pessoas que têm a reação muito parecida. Perde a graça.
Mas o que me incomoda nessa busca insana por audiência é a falta de critério na escolha das vítimas. Há alguns anos, assisti um desses quadros em que a brincadeira consistia em empregar as pessoas numa funerária e fazer um ator sair de dentro de um dos caixões. Teve uma senhora, idosa, que desmaiou. Tomei antipatia pela coisa. Me incomodam as brincadeiras inconsequentes, que desrespeitam as pessoas e, principalmente os idosos. Nem sei se é motivo para tanto... Vai ver ela também era uma atriz e a tolinha fui eu.
Opa!! Se for mesmo isso, aí é que eu não gostei! Trote é igual a pimenta: só é bom no dos outros.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 09/07/2009
Alterado em 12/07/2009