Textos

Trotes e Pegadinha (humor - causos)
Primeiro dia de aula na faculdade. Entra o professor e começa a relacionar os livros que teríamos que comprar e ler no semestre. A lista enorme, assustadora, cheia de exemplares cujos preços exorbitantes ele fazia questão de fingir desprezar. Quando já estávamos bastante assustados, a coordenadora do curso entrou na sala e mandou o "mestre" apressar-se pois sua aula, no quinto semestre já estaria começando. Era um trote.
Anos depois, na faculdade de teatro, o professor de interpretação cênica entra carrancudo, falando grosso, argumentando que ao contrário do que todos pensam, a matéria exigia disciplina e comprometimento, não seria nenhum oba-oba. Como um sargento, andava de um lado a outro em frente ao quadro negro, as mãos nas costas, vociferando contra aqueles que acham que artes e cultura são ciência de gente desocupada e sem ambição E nós, sentados no chão, parecíamos criancinhas olhando aquele homão tagarelando, lá em cima. Só não caí no trote porque o colega sentado ao meu lado já havia ouvido falar dessa aula inaugural e não conseguiu disfarçar um sorriso. Humberto Pedrancini, nome conhecido no meio artístico da capital, foi um dos melhores e mais divertidos professores que já tive na vida.
Eu sou meio bobinha. Crédula, às vezes me deixo envolver nessas brincadeiras. Uma vez, adolescente ainda, caminhava com uma amiga e ela cismou que estava com sede, não agüentava mais e que ia bater na porta da primeira casa que encontrássemos para pedir água. Eu, tímida como um moleque do interior, jamais faria isso e fiquei admirada da ousadia dela quando realmente tocou uma campainha. Só percebi a pegadinha quando ela se anunciou. Era a casa de amigos da família.
Me fazer festa surpresa é fácil. No meu aniversário, sou capaz de ver a agitação, refrigerantes, bolo e salgadinhos passando e, ao me chamarem para uma reunião de emergência na sala do chefe, ainda pegar agenda, caneta e todos os documentos referentes aos assuntos em andamento.
Por outro lado, não sou muito boa em dar trotes. Até consigo pregar uns “primeiro de abril” bem redondinhos, fazer uma cara de paisagem eficaz, mas logo após a primeira gargalhada, acho que “já deu” e desfaço o golpe.
Foi assim com a estagiária... sexta-feira de carnaval, ela se despediu, toda alegrinha, “até quarta!”. Um dos colegas, ao lado, fingindo surpresa, perguntou se ela havia sido dispensada na segunda-feira. Ela, muito mais surpresa, respondeu que não e já perguntou se teria que vir. Ele confirmou e, ante a incredulidade dela, perguntou para mim. Eu confirmei, com a minha melhor postura de chefe séria. E todo mundo, da equipe, balançava a cabeça assentindo. Assim que percebi que ela havia realmente acreditado, desmenti. Ela ficou tão feliz que desceu as escadas cantando alalaô. E era no 16º andar.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 08/07/2009


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