Textos

Lua Cheia e o Coração na Mão (tristeza)
Já tinha um texto pronto para hoje, gaiatinho como é bem o meu estilo, mas não consegui manter. Meu coração está apertado. Um sufocamento na garganta. Os olhos represando as lágrimas que querem muito cair. Uma tristeza monstruosa, uma terrível sensação de impotência, beirando a frustração.
Vontade de gritar... inutilmente, eu sei... talvez, aliviasse essa dor.
Há alguns dias venho fazendo transporte escolar: deixo a filhota da minha secretária na creche onde ela vai passar o dia, localizada numa invasão, próxima à minha casa. E é aí que começa meu tormento: cachorros. Cãezinhos por todo lado. Sarnentos, assustados, machucados, mancando, magérrimos ou apenas muito sujos. Tivesse como, levaria todos para casa. Cuidaria deles como cuidei do Xexéu que há três semanas lá em casa já aumentou seu peso de nove para onze quilos, está com o pelo brilhoso e até mereceria um outro nome, já que não recende mais à carniça. Mas, não posso.
Ontem, minha angústia aumentou. No trajeto vi aquela algazarra, uma matilha desordenada atravessando a rua. O centro das atenções, uma cadela no cio. O medo de entrar no meio daquele bando de machos em plena luta pela perpetuação de sua espécie me impediu de socorrê-la. Ainda por cima, com um bebê no carro, não podia me arriscar a embarcar uma cadela de rua e todas as suas possíveis doenças. Mas, aquilo, me estragou o dia. Minha covardia resultará em mais cães abandonados em breve. Hoje, uma matilha ainda maior, buliçosa, barulhenta, outra fêmea no meio deles. E, novamente, acovardei-me ante dentes furiosos que se enfrentavam pelo prêmio que eu tentaria tomar-lhes. Segui meu caminho com um terrível aperto no peito, impotente.
Domingo tem lua cheia. Amo a lua cheia. Ela mexe comigo como mexe as marés, mas também mexe com o ciclo reprodutivo da maioria dos mamíferos. Daqui até a próxima terça ou quarta-feira, esses agrupamentos efervescentes terão lugar por todo lado e mais e mais cãezinhos abandonados surgirão deles. Amo a lua cheia, mas hoje estou de mal dela.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 05/06/2009


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