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Imbróglio (humor - cotidiano)
Dia desses, me meti num imbróglio. Uma série de mal entendidos e acabei ficando de mal. Tipo criança, batendo nas bochechas: “belém-belém, nunca mais tô de bem”. Nunca mais é muito tempo, mas preferi mesmo ficar quieta no meu canto. Sem mágoas ou malquerer. Apenas preferi um certo distanciamento. Querer distância também é uma forma de respeito e quando os santos não batem, talvez seja melhor dar sossego a eles, já tão ocupados em garantir saúde, emprego, segurança, inspiração, harmonia, amor, etc. etc. etc
O chato disso tudo é que, de lambuja, uma outra amizade que me era muito cara viu-se obrigada a tomar partido. Não por mim, claro, que eu nunca pedi isso. Mas, mesmo me dando razão, foi para a outra parte que se bandeou. Lamento muito, mas, como Pascal tão lindamente afirmou, “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Espero que ela seja feliz lá com a escolha dela.
Fiquei imaginando o que se passa na cabeça de uma pessoa que se vê numa situação dessas. Sei lá... Os filhos ou um grande amigo dos pares em um casal que se separa, por exemplo. Se a separação é amigável, talvez os novos papéis sejam logo definidos. Mas, se a coisa esquenta, deve ser mesmo uma situação confusa, difícil de lidar. Primeiro, porque nossa tendência é julgar. Fincar posição. Defender o certo, condenar o errado. O chato é que certo e errado variam muito quando se trata de relações.
Tem uma piadinha – eu e minhas piadinhas! – em que duas amigas conversam sobre seus filhos e uma delas diz o quanto o filho é infeliz, por ter uma esposa tão folgada. A nora não faz nada em casa, exigiu uma empregada e quando chegam do trabalho, ele ainda é obrigado a levá-la para jantar fora. Ela quer tudo do bom e do melhor, só roupas de marca, sapatos...
Depois de lamentar a sorte do rapaz, a outra pergunta pela filha. A primeira responde, feliz:
- Ah! Ela deu muita sorte. O marido é um amor. Ela não faz nada em casa, eles têm  ma empregada ótima. Quando chegam do trabalho, ele sempre a leva para jantarem fora, ele só lhe dá coisas boas, de marca...
É uma caricatura, claro. Normalmente as questões são bem mais complexas, envolvem filhos, religião, moral, temperamento, compatibilidade, fidelidade, dinheiro, comportamento e o controle remoto da TV...
Nas vezes em que me vi nessas situações, tentei não “ficar mal com ninguém”. Mas, mesmo mantendo a amizade com ambos, uma hora acaba ocorrendo um afastamento daquela pessoa com a qual temos menos afinidades. Principalmente quando, entre os desafetos, resta ainda muito rancor. Fica aquela dúvida: qual dos dois convidar para a festa de aniversário? Aquele que costuma dar o melhor presente, claro.
Dá mesmo vontade de não chamar nenhum dos dois.
Por experiência, afirmo: o melhor mesmo é jogar limpo. Ser muito honesto, cartas na mesa.
- Fulano, vou fazer uma festa de aniversário e pensei em convidar Beltrana. Como vocês estão? Gostaria que você fosse também... Será que vai ficar um clima ruim?
Deixe o próprio amigo decidir. E se ele quiser ir, ligue para a Beltrana com o mesmo argumento. Se ambos vierem, esconda facas e demais armas brancas, procure acomodá-los em grupos separados,  converse com os demais amigos em comum e eles farão de tudo para que nenhum entrevero aconteça. No mais das vezes, além de algumas farpas, os dois até trocarão algumas palavras amistosas.
Agora, experimente convidar só um deles. O outro ficará sabendo – sempre tem um fofoqueiro para contar – e se sentirá preterido. Pronto. Você acaba de se meter num imbróglio.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 20/05/2009
Alterado em 20/05/2009


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