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Os Amores de Capitu


Uma ilha paradisíaca, um casal em lua de mel, este é o começa de nossa história. Eram felizes, viviam um amor intenso e acalorado. Mas Capitu, com seus olhos que não eram de ressaca, percebeu que havia um mundo lá fora. E quedava-se horas a perscrutar a costa, não muito além. Não sabia nadar. Tinha medo de água. Não fosse por isso, há muito já teria se lançado a ela, em busca de novos horizontes.
Otelo, bem mais velho e um tanto acomodado, não percebia as mudanças da companheira. Tinha tudo o que queria naquele lugar. E, embora permanecessem ali, ele com os pés no chão e ela, com a cabeça nas nuvens, ficavam cada vez mais distantes um do outro. O ponto alto desse desencontro foi a chegada de Eliseu. Ele, na praia da costa. Ela, na da ilha. Mas se viam, se percebiam, se queriam. A forte atração durou semanas, sem que pudessem consumá-la. Otelo percebeu. Tiveram brigas violentas. Numa delas, ele, descontrolado, desferiu-lhe um tapa. Magoada e ferida, Capitu não pensou duas vezes: lançou-se às águas, debateu-se e, não sabe como, chegou à costa, onde era esperada por sua grande e proibida paixão. Amaram-se loucamente, ali mesmo, na areia, sob o olhar furioso do marido dela.
Este seria o fim da nossa história, não fosse um pequeno detalhe: Capitu amava Otelo. Era com ele que pretendia viver até o fim de sua vida. Eram dele os filhos que queria parir. E assim, após saciar a sede de seu desejo, lançou-se novamente às águas e refez a travessia, desta vez, de volta aos braços de seu verdadeiro amor. Ele recusou o perdão. Bateu nela, a escorraçou, não a queria mais. Mas ela, sedutora, ora com jeitinho e doçura, ora sensual e provocante foi aos pouco reconquistando seu coração e a vida voltou ao normal. Tiveram três filhos, mas ela nunca foi totalmente fiel. Agora que perdera o medo, quase diariamente ia ao encontro do amante. Otelo, resignado, sabia que ela sempre voltaria para ele. Totalmente dominado por ela sabia que resistiria um pouco à sua volta, mas acabaria se rendendo àquela terrível verdade: não importava o quanto ela o humilhasse, ele a amava demais para desistir dela. Sabia que brigariam, bateria nela de novo, para desespero do amante que nada podia fazer para defendê-la. Mas depois fariam as pazes, luxuriosos, selvagens...
Este triângulo amoroso durou mais de um ano. Nem a chegada da bela Jaqueline, carioca da gema e cheia de amor para dar, conseguiu demover Eliseu de sua fixação pela insaciável Capitu. O romance só acabou porque ele foi obrigado a se mudar dali. Impedido de ir ao encontro da amante e sabendo que ela jamais poderia encontrá-lo, acabou morrendo de tristeza, embora os doutores, menos românticos, tenha atestado pneumonia. Capitu procurou por ele. Muito. Não o encontrando, resignou-se à sua sina de dona de casa e mãe. Otelo morreu alguns anos mais tarde, nos braços de sua amada, que chorou e sofreu muito, como cabe a qualquer viúva de respeito.
E, a tanta dor juntou-se mais uma. Tadeu, seu filho, a deixava. Havia herdado da mãe o gosto pela aventura e tão logo atingiu idade para isso, partiu, ganhou o mundo, foi morar em São Paulo. Sozinha com as duas filhas, Capitu mudou. Calou-se, aceitou sua sorte ou seu azar. Era boa mãe, e não deixava faltar nada às meninas, suas princesinhas, mas vivia triste e solitária.
Porém, esta história estava longe de acabar. Um dia, chegou à ilha um rapazote. Dezesseis aninhos, aprendendo a viver: Luís. Ela, já quase quarentona, o acolheu como a um filho, um substituto ao seu tão saudoso Tadeu. Vê-lo brincando com as meninas trouxe-lhe a alegria de volta e ela acompanhou com olhar complacente o namorico dele com sua filha mais velha. Ambos adolescentes, explodindo em hormônios, o namoro, que começou tímido, foi ficando afoito. Foi quando a sequiosa Capitu percebeu que em si, também voltava a arder uma chama há anos adormecida. Luís era a imagem da perfeição, bonito, másculo. Sua juventude viril logo trazia de volta a libido à matriarca da família. Capitu voltava a ser aquela fêmea avassaladora de antes. Usando de sua experiência, a poderosa e experiente Capitu logo seduziu o mancebo. E passou a ter um enorme ciúme da filha, fazendo de tudo para afastá-la do namorado. A ninfetinha, porém, teve a quem puxar e sempre consegue encontrá-lo, aproveitando-se dos mínimos descuidos da mãe. Luís, encantado com tanto assédio diverte-se com mãe e filha e já estica os olhos para Fernanda, a filha mais nova, que, por enquanto apenas assiste a toda essa movimentação, observando tudo de longe. Ainda não chegou a vez dela, mas logo, Luís irá tornar-se o macho dominante do bando e a terá também em seu harém. Os biólogos e tratadores do zoológico de Brasília que acompanham diariamente a novela nas ilhas dos símios, dizem que isto não é comum. Babuínos Reais costumam ser monogâmicos. Mas, com tantas fêmeas se oferecendo, ele parece bem disposto a agir de uma forma mais humana, assim como sua quase humana professora, a devassa Capitu.


Imagem daqui.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 23/03/2009
Alterado em 02/07/2010


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