A Minha Alegria Atravessou o MarA nossa percepção da passagem do tempo nos permite viver em ciclos, o que é uma forma de nos fortalecer. Nesta época do ano, ainda que estejamos trabalhando como se a rotação da terra dependesse disso, temos uma sensação estranha de relaxamento, de que tudo ainda está em ritmo de férias. Talvez porque boa parte dos colegas ainda esteja em férias, muito provavelmente porque a maioria dos clientes está. E só voltam mesmo depois do carnaval.
Só então as coisas começam a acontecer. O mundo para se a gente não põe mãos a obra, tudo é pra ontem, exceto o que é para anteontem. Para enfrentar esse frisson, nada melhor mesmo do que o carnaval, um pit stop na rotina para nos recolocar nos eixos.
Quem me conhece bem, não deve estar entendendo nada... Por que euzinha estou escrevendo sobre carnaval? Não sou, sequer de longe, fã da folia. Aliás, segundo Caymmi, devo ser uma má sujeita, ruim da cabeça ou doente do pé. Não é que eu não goste de samba. Até canto alguns, com traquejo e swing de sambista. Não gosto mesmo é de sambar. Sou meio parecida com a Charlene, da família Dinossauro: empino o bumbum, encolho os bracinhos e balanço no ritmo. Ah! Sim... ritmo eu tenho. Só não tenho coordenação motora para transformar a cadência natural da melodia contagiante em coreografia.
Mas, nem é por isso que passo longe das cortes de Momo. Quando criança, gostava das matinês, não perdia uma. Adorava os confetes, serpentinas, as marchinhas, as fantasias. Depois, ficando mocinha, ainda fui a alguns bailes. Gostava das paqueras. Mas, num carnaval de rua, me passaram tanto a mão que desencantei da brincadeira. Só sairia de novo se me fantasiasse de porco-espinho.
Também não herdei do papai o encantamento pelos desfiles. Acho os tais dos sambas enredos umas chatices, tirando, obviamente, alguns que realmente fizeram história, incluindo este do qual emprestei o título para este texto. Aquele monte de peitos e bundas bronzeados, balançando entre toneladas de plumas, brilhos e paetês, definitivamente, não me diz nada. Talvez seja culpa dos hormônios… Não tenho suficiente testosterona para achar graça nisso. Papai tinha. Era homem de bem, superfamília, católico fervoroso. Mas se tinha uma coisa que o velhinho gostava e, felizmente, a mamãe nunca se incomodou, era admirar a beleza plástica de um corpo feminino bem torneado. Daí que ele passava horas lá na sala, sentado em frente à telinha vendo as escolas passarem rebolando em calcinhas minúsculas de miçangas coloridas.
Então, agora, até você que não me conhece tão bem deve estar se perguntando por que cargas d’água eu estou escrevendo sobre o carnaval.
Por causa do feriado. Quatro dias e meio de folga são suficientes para dar novo ânimo a qualquer um. Bem queria que minha alegria atravessasse as passarelas e me levasse até o mar, mas, mesmo ficando em casa, “é carnaval, é folia e neste dia, ninguém chora”. Já tenho vários planos para este: ler, tomar sol, organizar umas coisas, escrever, namorar, curtir as filhas.... Inevitável ficar feliz.
E a minha alegria atravessa os mares, sem ancorar em passarelas, se oferece inteira para contagiar você...
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daqui.