CachorrãoSaíram juntos da festinha. Três casais e Lucas, filhinho de um deles.
Enquanto se despediam, o menino de dois aninhos saiu em desabalada correria. Chamado pelos pais, nem deu bola. Até que a mãe ameaçou:
- Vem filho! Tem cachorro aí!
Vinícius resolveu ajudar à amiga. Cobrindo a boca com as mãos em concha, latiu forte. O som reverberou naquela caixa improvisada e o latido pareceu mesmo de um cachorro grande. Lucas, assustado, voltou correndo para a segurança dos braços maternos. A imitação perfeita surtiu efeito. Os amigos riam:
- Eita! Tá vacinado?
- Uh! Tive medo, agora!
- Nossa, Vina! Com esse vozeirão, é você quem manda em casa, né não?
- Que nada!! Eu sei latir, mas é a Madá que morde.
Madalena respondeu, fingindo zanga:
- Ah, é, é? Vou é te entregar na Zoonoses!
Ele a abraçou, por trás, carinhoso:
- Vai nada... você sabe o que fazem com os bichinhos lá.
- Você ia virar um sabão muito xexelento, Vininha! – zombou um.
- Ela só não te deixa lá porque tem medo de que outra te adote... – ponderou outra.
- E depois queira devolver! – completou o terceiro.
Madalena sorriu:
- Ah! Mas ele é um bom garoto...
Vinícius imitou um cachorrindo de latido esganiçado e agudo, desses bem irritantes e mordeu, de leve, o pescoço dela.
Ela livrou-se do abraço dele e ordenou, apontando o carro:
- Vina! Quieto! Junto! Senta!
Ele soltou um gemido baixinho fazendo cara de coitado e obedeceu, encolhido. Ela sorriu, vitoriosa, e entrou também. Os amigos gargalhavam.
Enquanto o carro se afastava, ainda puderam ouvi-lo ganir alto e dolorosamente.