Textos

Micos Sonolentos
Sono fora de hora é complicado... Já me fez passar cada uma!
Hoje mesmo. Tive insônia a noite passada e agora estou aqui, desmaiando. As palestras são interessantes, mas acho que minha pressão baixou. Está difícil manter os olhos abertos!
Já tomei quatro xícaras de café! A gastrite está garantida para mais tarde e o sono não foi embora.
Mais uma pescadinha... A cabeça deu aquele pulinho, sabe? Aquele que denuncia seu sono até para quem está sentado atrás de você... Que vergonha! Abro o caderno. Escrevo o que o diretor está dizendo, na esperança de manter-me desperta. Não dá. As vozes vão se fundindo numa única cantiga de ninar e Hypnos vem dançando suas cabalas de encantamento. Decido abstrair da voz e escrever um texto. O tema só podia ser este: os micos sonolentos.
Não há nada mais pacífico do que uma criança dormindo, nada merece mais ternura. E, mesmo um adulto pode ser alvo de doce complacência quando em braços de Morpheu. Agora, vai dizer isso pro meu chefe, que me flagrou babando sobre o teclando quando apresentava sua equipe ao novo diretor. Imagino o constrangimento dele. Só imagino, claro, pois eu estava em alfa, não vi nada. Mas ele deve ter entrado na sala com o diretor e anunciado:
- E esta é a analista responsáv...
Interrompendo-se chocado com a cena, eu com a cabeça deitada sobre o braço, o mouse na mão, dormindo como um bebê. A secretária veio me acordar, a pedido dele. Fui à sala dele me desculpar, expliquei que havia tomado antialérgico e tal... mas é um mico para ser esquecido, varrido para debaixo do tapete ou travesseiros. Isto é, até que eu resolva eternizá-lo numa crônica, em tentativa desesperada para manter-me acordada neste auditório quase lotado.
Há um e-mail que circula já há bastante tempo na Net, com sugestões de como disfarçar se for pego numa situação dessas. A melhor, na minha opinião é, ao ser despertado, demorar um pouco a abrir os olhos e, em seguida, fazer o sinal da cruz, como se estivesse concluindo uma oração. Há outras, mas se roncar, já era.
Em New Orleans, no evento da CA, meu inimigo foi o ar-condicionado. Devo ser algum tipo evoluído de réptil, ou involuído de urso, pois não consigo manter a temperatura corpórea e hiberno. Diz meu marido que eu roncava como um gato velho e que ele teve que me cutucar varias vezes, antes que eu desistisse do seminário e resolvesse aproveitar a viagem para conhecer as terras calorentas de Anne Rice.
Até que a solução de escrever para afastar o sono surtiu algum efeito. Consigo absorver alguma coisa das palestras e me livro do embaraço provocado por Morpheu.
Um Morpheu engraçadinho, que se diverte em nos deixar em maus lençóis. Sim! Porque, mesmo entre os lençóis, nem sempre esse sujeito é bem vindo. Imagina a cena: os dois na cama pela primeira vez e... o cara dorme logo depois. Tudo bem! Diz a sabedoria popular que o certo é dormir mesmo e, se a mulher não tem sono, é porque não gozou. Mas, logo depois? Sem nem um chameguinho, um aconchego? Duvido que haja uma segunda vez...
E esta não é a pior travessura de Morpheu. Ele tumultua mesmo quando, depois de muitas segundas vezes, véu, grinalda e arroz de festa, no meio daquela conversinha dengosa de antes, um dos dois apaga. Será o fim do casamento? Você sabe que não. Sabe que é só aquela pescadinha básica do corpo relaxado após o banho que lavou o cansaço do dia exaustivo de trabalho, mas... vai explicar!
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 29/01/2009
Alterado em 29/01/2009


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