Textos



O Que Você Faria?


O medo de amar é o medo de ser livre

O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar
Onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ser
De a todo momento escolher
Com acerto e decisão
A melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Pra ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever
Recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz
(Beto Guedes e Fernando Brant)


Quando Sérgio e Alice conheceram-se, sentiram uma enorme atração um pelo outro. Em instantes, pareciam ter se conhecido desde sempre, compartilhando gostos, sentimentos, recordações, sonhos. Ao final do terceiro mês de namoro, felizes e apaixonados, ela, funcionária do Itamaraty, recebeu a notícia de que estava autorizada sua viagem para os Estados Unidos para uma temporada de três anos, uma vaga que ela vinha batalhando já há um bom tempo.
Disposta a não perder a oportunidade de viver esse grande amor, ela lhe disse que, se ele quisesse, ela não iria: não era mesmo grande coisa, havia se inscrito no processo seletivo apenas porque receberia em dólar e, poderia juntar algum dinheiro, com o qual pensava em comprar um apartamento ao voltar.
A idéia de perdê-la doeu-lhe fundo, mas ele teve mais medo ainda de fazê-la desistir de seu projeto de vida. Temia que depois ela pudesse cobrá-lo por isso, se as coisas entre eles não dessem certo. Divorciado há pouco tempo, ainda estava confuso com tudo o que estava sentindo, assustado com a velocidade com que as coisas estavam acontecendo, viu nesse problema a solução para que tivessem um tempo para analisar tudo com calma. Dando a entender que o que sentia não era lá grande coisa, ele a convenceu a ir viver sua vida. Magoada, ela foi. No embarque, ainda esperava que ele aparecesse esbaforido, como nos filmes, lhe pedindo para ficar. Mas ele nem mesmo foi despedir-se.
Nas terras de Tio Sam, Alice teve muito trabalho, frio e saudades. Mas, também muitas novas experiências, novos hábitos, contatos, cultura e a neve que ela nunca havia visto. Embora trocassem e-mails, ela sentia esfriar em seu peito aquele amor tão intenso e, suas mensagens, mais e mais esporádicas, falavam cada vez menos de amor e cada vez mais da amizade que restara.
Ao final do segundo ano, conheceu Ângelo, um homem fascinante e muito sedutor. Apaixonada, ela praticamente não mais pensava em Sérgio.
Quando finalmente venceu o tempo de sua estadia no exterior, ainda faltava um ano para o retorno de Ângelo. A relação com ele era turbulenta, vivia enciumada, insegura, não confiava nele e tinha lá seus motivos, achava que ele a traía e, estava certa de que assim que virasse as costas, ele iria esquecê-la, nos braços de outra. Mas, sem alternativa, retornou ao Brasil, chorosa e triste.
Assim que soube de seu retorno, Sérgio, que nunca a havia esquecido, fez de tudo para apertar os laços, envolvendo-a com atenciosa amizade. Saudosa do namorado, ela gostava desse carinho, embora sempre tenha lhe deixado claro que não nutria por ele mais qualquer sentimento romântico. Neste intervalo a mãe dele adoeceu, vindo a falecer e Alice o apoiou muito, sinceramente penalizada pelo sofrimento do amigo. Era o que bastava. Fragilizado, Sérgio viu emergir com toda a força aquele sentimento que ele tão racionalmente havia mantido sob controle. Um dia, tentou beijá-la. Ela recuou assustada, fazendo-o desculpar-se, encabulado. Ele então confessou seu amor, contou-lhe o quanto estava arrependido de tê-la deixado ir, disse que a esperara durante toda a sua estadia no exterior. Por causa dela nunca conseguira envolver-se com mais ninguém.
Ela ouviu tudo pacientemente, mas aquilo não mais lhe dizia respeito. O amor tão intenso que sentira virara pó e, delicadamente, repudiou todas as investidas de Sérgio.
Finalmente, ele percebeu que a perdera e resignou-se. Com o tempo, também a esqueceu.


Às vezes, temos medo de amar, de nos envolver, nos machucar... temos tanto medo da infelicidade que abrimos mão das nossas melhores chances de felicidade.
Poderia terminar esse texto com uma série de conselhos óbvios sobre a importância em dar chance ao amor, não desistir de ser feliz, não se acomodar em seus portos seguros e infelizes. Há tantas lições na estorinha de Alice e Sérgio...
Mas prefiro deixar que você mesmo encontre suas respostas.
O que você faria no lugar de Sérgio?
Teria deixado Alice partir, mesmo tão apaixonado?
E, se você fosse Alice? Teria colocado sobre os ombros dele a responsabilidade por sua decisão?
O que você faria?
E agora, o que você fará?


Imagem daqui.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 21/01/2009
Alterado em 27/07/2010


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