Textos

Nesta época do ano algo nos toca o coração, os sentidos... Vemos a todo instante rechonchudos velhinhos de bochechas rosadas e barbas brancas oferecendo presentes e felicidades, apesar do calor tropical que deve estar derretendo seus neurônios sob toda aquela roupagem adequadíssima ao clima da Lapônia. Vemos também míticos presépios que realçam a importância de se lembrar o aniversariante do dia, o amor, a família, a amizade, a solidariedade e a esperança. Na TV e no cinema, estórias de fazer rir ou chorar, onde vidas se transformam quando tocadas pelo espírito Natalino. Ou pelos três espíritos, como imaginado por Dickens... Nossas caixas postais ficam lotadas de mensagens cheias de significados e carinho, compostas especialmente para nós ou emprestadas de outros autores. Todas com o mesmo objetivo: desejar-nos felicidades nesta data tão especial. Há ainda as manifestações de protesto pela exploração comercial da data. Difícil não revoltar-se mesmo com isso. Lembro de que, nos primeiros anos de casados, morávamos num apartamento em um prédio comercial, na avenida central de uma das satélites de Brasília. Pois desde os primeiros dias de novembro, acordávamos e íamos dormir ao som dos mais variados Jingles Bells, que ressoavam das caixas de som instaladas a cada poste. Enquanto isso, sob as marquises, os mendigos se acomodavam em rotos cobertores ao som de Noite Feliz. Ontem, fui à pet comprar o remédio da minha cachorrinha e deparei-me com o Panetone canino, com pedacinhos de carne. Na embalagem o apelo: "seu cãozinho também gosta do Natal". Pensei comigo: "Sim! Minhas filhotas amam o natal. E ficam, como eu, irritadas com esse exagero de compras e comilanças e bebelanças, falsidade e hiprocrisia. Elas, que pensam que a data deve ser celebrada com respeito e abnegação, em companhia da família e de Deus. Rá! Rá!" Não. Não comprei o panetone... minhas cadelinhas não fazem idéia de que dia é hoje ou o que festejaremos amanhã. Para elas, esta será apenas mais uma noite feliz, como todas as outras: alimentadas, aquecidas, amadas e protegidas como tantas crianças pelo mundo afora não são. Sem contar as constantes brigas entre os familiares. Com quem passar a noite de Natal? Na casa da sogra ou da mãe? Da irmã mais nova ou da mais velha? Do filho que mora aqui ou do que mora distante? Não importa. Se não é possível juntar todo mundo, alguém será preterido e ficará magoado. E essas coisas dão mesmo um pouco de raiva da festa, tiram o seu encanto. A não ser que consigamos ver que o Natal, na verdade, acontece dentro de cada um de nós. E, a cada um de nós cabe a tarefa de transformarmo-nos, ao toque do Espírito. Assim, neste Natal, transforme-se! Se for comemorar, comemore: beba, coma, troque presentes, beije, abrace, sorria. E faça isso tudo com amor, que é assim que Ele quer. Não lamente pelos gregos e desfrute ao máximo da companhia dos troianos, ou vice&versa. Se foi preciso tomar partido, faça-o com convicção e apazigüe os ânimos dos preteridos, explicando que, numa próxima ocasião, eles serão os escolhidos. Se toda a festa lhe parecer incômoda, hipócrita, sem sentido, não vá. Não se violente. Passe a noite em companhia de um bom livro e uma garrafa de vinho ou arregace as mangas e procure uma dessas tantas entidades de apoio que há por aí. Há muita gente que passa o Natal nas ruas, distribuindo alimentos e alegria aos que precisam. Seja um deles. Vá à luta, faça a sua parte para que a festa de aniversário do Menino Deus seja mais bonita, menos desigual. O importante é celebrar: consigo, com os seus ou com o mundo. E ser feliz. E é somente isso o que lhe desejo, neste Natal. Que você seja realmente feliz. Não só nesta noite, mas em todos os natais que virão. E também, nos dias que houver entre eles.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 24/12/2008
Alterado em 18/12/2011


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