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Deixa Eu Dormir


Eram cerca de dez horas da noite. Eu atualizava um site pela internet e o maridão assistia um filme policial, desses típicos, com perseguição de automóvel, tiros, gritos...
De repente, ouvi dois estampidos, de algum lugar às minhas costas. Olhei pra ele:
- Nossa! Esse "rome tiater" é bom mesmo... Tive quase certeza de que os tiros foram aqui!
- E foram! - respondeu ele, já olhando pela janela - Tem um carro da polícia aí em frente. Vou acender as luzes.
E ligou os refletores de segurança, dispostos na lateral da casa, para onde os PMs pareciam estar se dirigindo.
Ficamos acompanhando a agitação e vimos quando os dois retornaram ao carro e saíram de nosso conjunto, dirigindo enlouquecidos, voando sobre os quebra-molas.
Voltei ao computador, satisfeita pelo Cine Action ao vivo e gratuito. Só não era em cores porque à noite, como se sabe, todos os gatos são mesmo pardos.
O meu digníssimo continuou vigiando a casa por algum tempo, lamentando não ter ainda os quatro dobermans e seis rotweillers que ele gostaria de ter no quintal. A proteção da casa e família hoje conta apenas com duas feras: Anita e Diana, duas pequenas cadelinhas da raça daschund, mais conhecidas como Cofap ou salsichinhas. Ah! e, claro, um sistema de alarme que não ladra nem morde, mas é o que me dá segurança.
- Vou lá fora - diz meu herói, indo em direção à porta.
- Como assim? Pra quê? Estamos seguros aqui...
- A polícia está ali, em frente ao vizinho. Vou lá falar com eles. - e foi, levando nossas guarda-costas, digo, guarda-botas.
Depois voltou com notícias: quatro bandidos invadiram várias casas nos conjuntos anteriores. No nosso, tentaram arrombar a porta de uma casa próxima à nossa, mas foram ouvidos pela família que se refugiou no piso superior, de onde acionou a polícia.
O maridão sentou-se novamente para assistir o filme e pareceu não mais se preocupar com o assunto.
Eu estava muito cansada, tenho trabalhado demais, não vinha dormindo bem e resolvi ir para a cama. Instantes mais tarde, fui acordada pelos latidos de nossas "meninas". Meio sonolenta, cheguei à janela e pensei que já era natal com tantos pisca-piscas!!! Havia umas seis viaturas da PATAMO (é o BOPE candango) estacionadas em frente à nossa casa, com luzes e faróis acessos. O portão estava escancarado e minha cara metade lá, no meio deles. Voltei a deitar, esperando que as cadelinhas se acalmassem. Passados alguns instantes, porém, ouvi um som agudo. "Um ganido!!" pensei. "O ladrão entrou em casa e bateu em minhas meninas!".
Chamei por elas, aflita e vi as duas correndo em minha direção, bem tranqüilas. Acho que o barulho foi de alguma sirene ou derrapagem dos carros que já saiam. Acomodei-as em sua caminha e voltei a dormir.
Na manhã seguinte, soube que o marido havia acompanhado os policiais até a beira do córrego que passa ao fundo do nosso lote para que eles procurassem pelos bandidos. Pelos rastros, os soldados estavam certos de que os assaltantes haviam atravessado nosso quintal.
Soube também que eles estavam armados, três deles foram presos ainda naquela noite, numa quadra mais à frente, um era menor de idade e todos já tinham passagem pela polícia.
Nesta altura meu amado já achava que dezoito dobermans e trinta rotweillers eram pouco e cogitava seriamente a instalação de cerca elétrica.
Também dormiu mal, o pobrezinho. O sono tenso, interrompido por qualquer barulhinho.
- Você estava mesmo com sono ontem... - disse ele. - Eu pedia pra você prestar atenção, quando eu olhava, você já estava dormindo de novo.
Fazer o quê? Protegida por ele, pelo alarme e pelas minhas princesinhas, dormi mesmo, como um bebê, o sono dos justos que eu precisava. Que chovessem balas de canhão, que desfilassem a moda “meliante primavera-verão” pelas passarelas iluminadas do nosso lote, eu merecia aquele soninho reparador.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 06/11/2008
Alterado em 16/10/2010


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