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Namorar Escondido
Bianca era uma amigona minha. Como ela morava longe e eu não dirigia, nunca freqüentei a casa dela. Um dia, porém, ela adoeceu e eu, já devidamente motorizada, fui visitá-la. Fui recebida pelo César, irmão dela, e tive meu primeiro contato com o "amor à primeira vista". Dele. O cara apaixonou, arriou os quatro pneus, caiu de quatro, babou, gemeu e chorou neste vale de lágrimas, já que a flecha do cupido só acertou a testa dele, passando a quilômetros da minha. Educadinha que sou, tirei o corpo fora com muita delicadeza, fazendo de tudo para não magoar o rapaz que, além de ser irmão da minha grande amiga, ainda era um bom garoto.
Neste intervalo, comecei a sair com meu amado marido e desse cupido não me esquivei. Uma noite, chamei a Bianca para apresentar-lhe meu novo namorado. Quis fazer surpresa e não contei o motivo do programa. E ela, claro, convidou o irmão. Quando vi os dois descendo do carro, percebi a sinuca de bico em que me havia metido. Apresentar o namorado ia ser pisar o coração do César com meu salto quinze e, conseqüentemente, magoar a irmã dele. Melhor deixar as apresentações para outra ocasião. Expliquei ao futuro maridão rapidamente o que estava acontecendo e, para marcar de vez o território no meu coração, ele entendeu a situação e aceitou passar-se por um grande amigo.
Foi uma noite agradável, entre amigos, apesar de tudo. Conversamos, rimos, cantarolamos junto com o grupo que tocava MPB ao vivo. Meu doce amado comportou-se com um lorde, exceto quando, vez por outra, dava um jeitinho de me alisar as pernas sob a mesa. E, quando fui ao banheiro, ele veio atrás. No hall dos sanitários, nos beijávamos, rindo da travessura, vigiando para que ninguém da mesa nos visse.
Dias depois, contei tudo à Bianca que, afinal, achou tudo muito divertido e se encarregou de desanimar o irmão.
Nos anos seguintes, perdi o contato com eles.
Casada e feliz, nunca mais precisei namorar escondido. Mas, certamente, aquela noite, foi uma das mais excitantes da minha vida. Foi também a que mais nos uniu, tal a cumplicidade que experimentamos.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 26/10/2008
Alterado em 27/10/2008


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