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Tudo Azul no País do Sul
Sempre que algum conhecido me pergunta como estou, respondo com voz impostada:
- Tudo azul, no País do Sul.
Inventei isso há alguns anos e nunca deixei de usar. Alguns amigos já me perguntam se está tudo azul no país do sul ao invés de perguntarem se está tudo bem.
O curioso dessa minha resposta padrão é observar a reação das pessoas na primeira vez que a ouvem.
A maioria sorri e entende isso como um simples “tudo bem” que é o que esperava ouvir quando fez a pergunta inicialmente.
Algumas, otimistas, concordam e enumeram as maravilhas do nosso paraíso tropical. Como é bom viver em terras geograficamente abençoadas, sem terremotos ou furacões, ricas em matas verdejantes com uma fauna e flora riquíssimas que seduzem todo o mundo. Onde há abundância de água, belíssimas praias, cidades prósperas nas quais se goza de qualidade de vida invejável. Um povo alegre, festivo e hospitaleiro, que  tem liberdade política, de imprensa e de credo, onde as leis estão sempre evoluindo para melhorar a vida do povo, reduzir as desigualdades e proteger as minorias: negros, mulheres, desassistidos. Um país que recebe de braços abertos os estrangeiros de qualquer rincão do planeta e lhes dá condição de vida e trabalho.
Outras, pessimistas, questionam: como posso dizer que está tudo bem, com esses governos que se sucedem cada um pior do que o outro? Com a corrupção, a impunidade, a violência crescente, o avanço do crime organizado, o retrocesso da educação. Como dizer que algo está azul no Brasil, quando nossas riquezas naturais são diariamente destruídas, rios e mares poluídos, nossos bichos presos, maltratados e vendidos ilegalmente, nossa biodiversidade contrabandeada e explorada lá fora. Impossível dizer que algo está bem quando há tanta miséria, crianças morrem de fome ou por doenças que já foram erradicadas em quase todo lugar, mulheres são espancadas, violentadas e mortas, drogas são vendidas nas portas das escolas e os homens da lei, pagos para proteger a população, acabam sucumbindo ao poder da propina ou das ameaças dos bandidos?
Contrabalanço as respostas de umas com as das outras. Aos muito otimistas, mostro que ainda há muito para melhorar. Aos pessimistas, exponho o quanto já melhoramos. E assim, encontra-se um ponto de equilíbrio muito mais realista do que é o nosso País do Sul.
Mas há um terceiro grupo. Não são otimistas nem pessimistas. São os chatos. É a velha história do copo com água pela metade. Para o otimista, meio cheio. Para o pessimista, meio vazio. Para o chato:
- Meio nada! Quarenta e nove por cento!
Pois é. Imagina a cena:
- Oi, Nena, tudo bom?
- Tudo azul, no país do sul!!
- Sul de onde? Depende do referencial. Para a Argentina, por exemplo, somos o país do norte.
Fazer o quê, né? Ele está certo, embora seja chato.
O chato é aquele sujeito que se prende a um detalhe insignificante ao contexto, como forma de fugir da discussão que realmente importa. Seja sobre o país do sul, do norte, do leste ou do oeste, seja sobre o quando ele está azul ou “rodando no vermelho”, seja sobre minzinha, minha doce pessoinha, que era, afinal, o alvo da pergunta.
O chato é o cara que olha para um quadro magnífico e só consegue observar que ele está torto na parede.
Eu tenho pena do chato.
Ele jamais conseguirá ver um céu muito nublado, mas para ele nunca estará tudo azul. Haverá sempre uma nuvenzinha capaz de atrair-lhe o foco do olhar e impedi-lo de observar todo o resto.
Por outro lado, o chato é um liberto. Ele ignora sua condição de chato ou simplesmente não se preocupa com ela e é feliz.
Então, vivam os chatos!
E muita sorte ao País do Norte.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 28/08/2008


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