Textos



Eu Nunca Amei Você


Quando conheci você, achei que, enfim, havia encontrado a minha pessoa, minha alma gêmea, o meu amor para toda a vida. Ignorei conselhos, baixei as guardas, quebrei minhas muralhas, depus as armas. Uma paixão incontrolável me invadiu e eu me vi, tola e feliz.
Fui sua amiga, amante e confidente, de prontidão para ajudá-lo em tudo o que você de mim quisesse. Aos poucos, porém, você foi se mostrando, transparecendo através de seus muitos lindos disfarces e eu pude vê-lo, ver seu verdadeiro ser. Quando questionado sobre seus atos, você dizia estar se protegendo. Protegendo-se de quê? De mim, que já lhe havia dado tanto?
A cada véu que caia descortinando sua farsa, percebia mais claramente sua vileza, mesquinharia, futilidade. Seus desprezos e esquecimentos, seus fastios e crueldade, sua insensibilidade, sua pouca ou nenhuma consideração com os sentimentos alheios, com os meus sentimentos.
Hoje, vendo-o assim, tão nu e feio, percebo a verdade irrefutável: eu não amo você. Posso ver agora seu sorriso zombeteiro, seu ar de escárnio ao vaticinar:
- Então, eu tinha razão. Nunca foi amor. Você nunca me amou de verdade.
Você está errado. Foi amor sim. Lindo, perfeito, mágico. Alimentado, acarinhado, correspondido e ele viveria em nós para sempre. Porém, você também está certo: nunca amei você. Amei, apaixonadamente, uma imagem, uma farsa, uma fantasia. Um homem que não existe, fora dos meus sonhos mais doces.
Esta certeza me fortalece, me conforta, me liberta. Mas ela também me entristece, um pouco. Apesar de tudo o que você me fez sofrer, sinto pena de você. Pena da sua falsa felicidade auto-suficiente e superficial. Pena de você por haver me perdido, pena de você por tudo o que poderíamos ter sido e vivido se você fosse real.
Quando me olho no espelho e me vejo linda e poderosa, quando vejo as curvas do meu corpo, os cachos nos cabelos, o verde dos meus olhos, o brilho carnudo dos lábios, cada vez que alcanço um novo patamar em minha escalada, a cada promoção, cada elogio, cada êxito, grande ou pequeno, penso que esta seria a mulher que você mereceria, se você não fosse uma farsa.
Quando tombo exausta e satisfeita nos braços de minha nova e tão mais sincera paixão, lamento por você que dizia adorar esse meu momento e o instante imediatamente anterior a este, em que era possível ler em mim todo o êxtase que o prazer de amar me dá.
Mas mesmo essa minha piedade começa já a desaparecer, bem como suas lembranças de minha memória.
Adeus. Não vou lhe desejar felicidade como das outras vezes. Penso que seria em vão. Não acredito que alguém possa ser realmente feliz, vivendo vazio, sem amor, usando e pisando as pessoas que cruzam a sua vida.
Para mim, ao contrário, vejo um futuro luminoso e pleno de amor e paz.
Livre de suas garras, meu coração bate mais forte, o mundo inteiro me sorri.
Sou como um rio cujas águas não se deixam deter por uma grande rocha lançada em seu leito. Elas apenas desviam-se do obstáculo e seguem, ainda mais belas e ruidosas pela experiência da vitória.

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Este texto é um presente para uma grande amiga, cujo lindo coração aos poucos volta a sorrir, depois de muito sofrer nas garras de um amor de rapina.

Image daqui.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 15/08/2008
Alterado em 10/07/2010


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