Alegria Contagia
Terminei a ecografia de uma senhora, muito simpática e disse a ela que se vestisse. Como ela e o esposo haviam solicitado pressa, pois precisavam buscar a netinha na escola, fui avisá-lo de que ela já estava saindo e entregar-lhe o protocolo para que pegassem o resultado depois.
Ele agradeceu e, quando eu ia voltando para o interior da clínica, brincou:
- E aí? É menino ou menina?
Demorei uns dois segundos para entender a piada: ela já está por volta dos sessenta anos e, caso paire alguma dúvida a esse respeito, não está grávida. Enfim, entrei na brincadeira e respondi:
- São gêmeos!
Em seguida, entrei para organizar uns papéis, antes de sair para o almoço.
Voltei à recepção, justamente a tempo de vê-la contar ao marido:
- Alguém vai ter gêmeos! - estava eufórica.
- Como sabe? - perguntou ele, fingindo-se inocente.
- Ah! Enquanto estava na sala de exame, ouvi alguém anunciando, do lado de fora: "São gêmeos!!" Em seguida, risadas, um burburinho. Acho que a futura mamãe estava sendo examinada em alguma sala próxima... Fiquei tão feliz!
Eu e ele nos olhamos e caímos na gargalhada.
- Fui eu! - disse a ela.
Ia explicar-lhe todo o diálogo, mas, pelo visto, anos e anos de convivência haviam-na tornado expert nas brincadeiras do marido. Olhou para ele como quem dizia: "Tem dedo seu, nessa história." E se juntou a nós na risada.
Não pude ver o desenrolar da história. Ela lembrou-se da netinha que precisavam buscar e os dois foram embora, ainda rindo.
Peguei minhas coisas e desci logo depois. Chegando na garagem, o cliente à minha frente brigava com a mocinha do guichê sobre o alto preço cobrado pelo estacionamento, acusando-a e aos donos do espaço de ladrões. Quando ele foi embora e eu aproximei-me do balcão percebi que aquela estupidez desnecessária lhe estragaria o dia. Ela parecia constrangida e irritada. Eu, ao contrário, ainda carregava aquela sensação gostosa que só uma boa gargalhada pode provocar, resolvi passá-la adiante. Abri meu melhor sorriso e perguntei:
- Escuta, se eu brigar com você, ganho desconto?
Não é que funcionou? Quando me afastei de sua janelinha, ainda tinha a impressão de que a moça sorria feliz, por minha brincadeirinha infantil. Parecia mesmo já estar esquecida da grosseria sofrida há instantes.
Imagem daqui.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 11/07/2008
Alterado em 10/07/2010
Alterado em 10/07/2010
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