De Pé QuebradoA turma bebia há horas, papeando, contando piadas. Na hora de ir embora, Paulão estava muito bêbado para dirigir, e nós conseguimos convencê-lo a deixar o carro sob o bloco de um dos amigos e nos propusemos a levá-lo em casa.
O problema é que eu também havia passado um pouco da conta. Nada demais, mas considerando que sou muito fraca para bebidas, achamos melhor não arriscar. Sobrou para o marido que, por estar tomando antiinflamatórios, não estava bebendo. Cumpre acrescentar que ele estava tomando remédios por haver rompido os ligamentos do pé direito e, conseqüentemente, usava uma incômoda bota de gesso. Ainda assim, era o único sóbrio entre nós e o Paulão morava mesmo longe. Assim, pegamos estrada. Paulão cochilava no banco de trás, ao lado de Irene que também morava em Taguatinga. Eu ia ao lado do maridão, tagarelando, animada. Ao nos aproximarmos do posto policial, vimos a blitz. Não achávamos que seríamos parados, mas um dos faróis do Niva cismou de falhar justamente naquela hora e o "seu guarda" mandou encostar. Pediu os documentos, o maridão apresentou. Ao ver o Paulão cochilando, ele cismou que o motorista também estaria alcoolizado e exigiu que descêssemos do carro.
Não querendo mostrar o pé quebrado para o policial, meu marido enrolou um pouco, mas só o que conseguia era irritá-lo. Paulão despertou a tempo de acompanhar a discussão e ver o meu marido vencido, abrir a porta para desembarcar.
Ao ver o gesso, o policial disse que não podíamos prosseguir, que iria apreender o veículo e, dirigiu-se ao posto para lavrar os documentos. Eu, Paulão e o marido íamos atrás dele, tentando dissuadi-lo.
Foi quando um outro policial nos viu e aproximou-se. Abriu os braços, feliz:
- Paulão!! Que bom revê-lo!
Eram amigos de infância. Trocaram algumas firulas, depois ele quis saber o que estava acontecendo. Ao final, deu um toque pro colega liberar a gente e ainda arrumou o farol do carro que estava apenas com um mau contato.
Paulão ficou sóbrio na hora e eu tive a certeza de que não estava nem um pouquinho bêbada. Ainda assim, o marido preferiu continuar dirigindo e retomamos nosso destino.
Diz o ditado: quem tem amigo, não morre pagão.
Ruim é ter marido e ter que agüentá-lo dizendo que, mesmo de pé quebrado, ainda dirige bem melhor do que eu.Imagem
daqui.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 20/06/2008
Alterado em 24/08/2010