Anjos e BêbadosSão os protegidos dos mais eficientes anjos da guarda e os protagonistas das situações mais hilárias. Não quero falar do alcoólatra, desse eu não consigo rir. Tenho pena. Nem dos irresponsáveis que bebem e depois vão dirigir, pois desses tenho raiva. Falo dos festivos beberrões que bebem socialmente. Mas são tão sociáveis que vez ou outra precisam pagar hora extra aos seus anjos.
É o caso do Beto que foi pego pela polícia tentando roubar elementos de sinalização. O que ele ia fazer com os enormes cones alaranjados, nem ele sabe dizer. Mas, na hora, com alguma cerveja a mais na cabeça, a idéia de levá-los sob o braço pareceu muito adequada. O anjo da guarda agiu rápido e os homens da lei acabaram achando graça da brincadeira, liberando meu amigo após obrigá-lo a devolver os objetos furtados. Beto é o típico bêbado sentimental. Quando exagera no álcool, faz altas declarações de amor, para a namorada ou os amigos:
- Vo-chê é o ca-ra! Meu ir-mão-zjão!
Brasília tem um clima ameno, embora, em junho, as madrugadas apresentem temperaturas bem baixas. Nesta época do ano, acontece a Festa dos Estados e, foi lá, que Sérgio, Ricardo e Manuel, tomaram algumas pingas na barraca de Minas para esquentar. Ao final da festa, em plena madrugada, os três tiraram as muitas roupas e nadaram nas águas imundas e geladas do laguinho do parque da cidade. Só com muito esforço de seus guardiões escaparam de ser presos e, principalmente, de uma infecção ou pneumonia.
Lúcio tentou beijar a estagiária na frente da mãe dela. O anjo dele fez-lhe as mãos moles de bêbado para que o dela a ajudasse a escorregar como quiabo antes que ele consumasse o estúpido assédio e o escândalo morreu ali.
Anderson nem havia bebido muito, mas, exposto ao sol, ficou muito grogue. Estava à beira da piscina com a esposa e a melhor amiga dela. Perdeu a compostura e cantou esta última. E o coitado do seu protetor alado, desesperado, aspergindo Diazepan spray e gás hilariante nelas, que riram muito dele.
Augusto, ao ver a ex-namorada com outro, esvaziou a garrafa de batida de coco. Em seguida, desatou a chorar, cantando: "Vendo a lua e dizendo pro sol... quer namorar comigo?" O cara de auréola se recusou a intervir. Estava aborrecido depois de ter-lhe soprado a letra correta umas quatro vezes, sem ser ouvido.
Celso e Lino foram a Caldas Novas para passar o carnaval no camping, com suas esposas. No sábado à noite, ficaram curtindo a piscina aquecida e o lindo céu estrelado. Quando as mulheres resolveram voltar às barracas, eles disseram que ficariam mais um pouco e que iriam dormir assim que enchessem uma sacola de supermercado com latinhas vazias. O que elas não sabiam é que os dois estavam sentados a uns três metros da sacola, pendurada numa árvore e tentavam acertar as latinhas em lançamentos de basquete. À medida que seu estado de embriaguez foi aumentando, não acertavam mais nada. Novamente, foram os seus anjos que os fizeram desistir antes do coma alcóolico, deixando a sacola pela metade e muitas latinhas vazias e amassadas à sua volta.
E a melhor (seria pior??) de todas.
Rildo ao chegar em casa, tentou, sem sucesso, mirar o buraco da fechadura com a chave. Inclinou-se para trás, buscando um melhor ângulo de visão. Tinha, porém, a impressão de haver-se inclinado demais, pois o buraco parece ter ficado mais alto, na porta. Reposicionou a mão e o buraco novamente pareceu subir. Novo ajuste e o tamborzinho parecia fugir dele, pela porta acima. Quando sentiu que a mão já estava na altura dos ombros, entendeu que havia alguma coisa errada. Parou. Apertou os olhos justamente a tempo de ver escapulir por uma fresta a barata que ele seguia com a chave. Seu anjo não pode ajudar. Estava ocupado demais, rolando no chão de tanto rir.