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A Melhor Coisa do Mundo


Muita pretensão minha querer definir o que é a melhor coisa do mundo. Eu que nunca amamentei ou carreguei um bebê em meu ventre, eu que nunca estive em Paris, nunca fui muito rica, nem espiritualizada o bastante para não me importar com isso, jamais escalei o Kilimanjaro ou atravessei a nado o Canal da Mancha. Nunca venci um torneio de Grand Slam, nem cantei para o Maracanã lotado.

Como posso querer dizer o que é a melhor coisa do mundo vivendo uma vidinha normal, sem grandes êxitos, nenhum livro publicado, nenhuma árvore plantada?

Simples. A melhor coisa do mundo é corriqueira e vulgar. Não envolve megalomania... Embora, infelizmente, ainda haja, no mundo, quem nunca pode alcançá-la.

Veja se concorda comigo: a melhor coisa do mundo é saciar-se. É estar com muita sede e beber um grande copo de água. É estar com fome e alimentar-se. É estar com frio e aquecer-se, com calor e refrescar-se, com tesão e amar.

Lembrei de uma piadinha. Não tem palavrão, mas é meio grosseira. Se você preferir não ler, pule para os asteriscos:

Dois sujeitos estão no mictório de um banheiro público quando um deles começa:
- Aaaaaahhhhhhhhh! Que booooommmmm! Aaaaaahhhhhh!! Que delícia! Aaaahhh! Não tem coisa melhor neste mundo do que fazer xixi...
E o outro:
- Meu amigo, ou eu não sei mijar ou você não sabe trepar.

Concordo. Mas experimente fazer amor, depois de beber meio litro de água, a bexiga quase estourando... Não funciona.

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Você, neste ponto, deve estar pensando: Ei! Essas são necessidades apenas orgânicas. Se fosse só isso, ninguém erigiria edifícios, ninguém comporia sinfonias, ninguém se casaria... E todas as outras coisas? As que eu citei no início do texto, por exemplo? E eu respondo: você é um gênio. Você é telepata!! Está lendo meus pensamentos... posso parar de escrever e ficar só pensando.

Mas deste modo estaria me privando de uma das melhores coisas do mundo para mim: escrever. Não abro mão, não!

Maslow, psicólogo americano, descreve a prioridade de atendimento das necessidades humanas através de uma pirâmide. Ele afirma, categoricamente, que o homem nunca buscará saciar desejos dos níveis superiores, antes de satisfazer as necessidades dos inferiores.

Na base da pirâmide de Maslow, estão as necessidades fisiológicas, seguidas pelas necessidades pequeno burguesas, que ele chamou de “segurança”: lar, emprego, plano de saúde, rotweillers, carros blindados...

O próximo nível contempla as necessidades sociais: amor, afeto, aceitação e conformidade de uma forma geral. Queremos pertencer a grupos, família, clubes e comunidades do Orkut...

O nível seguinte fala da necessidade de reconhecimento de nossas capacidades e o último seria a ambição, a necessidade de auto-realização, aprimoramento.

Se considerarmos que cada um deles implica em necessidades a satisfazer, podemos voltar ao meu raciocínio: a melhor coisa do mundo é saciar-se. Satisfazer suas necessidades sejam elas de que nível forem.

E aí, moram as diferenças individuais. Tirando as necessidades mais básicas, que são praticamente iguais para todos, as outras variam muito. Para a mulher que passou por um complexo tratamento para engravidar, você consegue imaginar que momento melhor do que o de encontrar o resultado positivo no exame? E para o jovem que passou meses privando-se de namoros e balada, ao ver seu nome na lista de aprovados no vestibular? E o atleta para-olímpico, sendo calorosamente aplaudido ao cruzar a linha de chegada em último lugar, quando há apenas alguns meses ouvia dos médicos que jamais poderia voltar a andar? Para o pai de família, desempregado há quase um ano, quando vê a carteira de trabalho novamente assinada? Para a Marília* que após quase ser afogada por letras, conseguir laçar e domar a todas e nos presentear com “As Mulheres e As Letras”?

E você que está de barriguinha cheia, tomou água, foi ao banheiro, quitou o financiamento habitacional na Caixa com o dinheiro do salário que acabou de sair e ainda deu para pagar o plano de saúde, a mensalidade do clube, da academia e da internet... você, que ao sair de casa de manhã, recebeu beijos carinhosos do cônjuge e dos filhos, que sabe que ao final do mês receberá a promoção por merecimento... Pense! Que outras necessidades você tem? Que outras metas, desejos, anseios movem o seu ser?

Pensou? É só o que eu desejo: o melhor do mundo pra você!!


* Referência à Marília L. Paixão, Recantista e sua crônica do dia 22/05 (meu nome está lá). Não estou devolvendo a gentileza. Apenas achei que não havia melhor exemplo do que esse para ilustrar o prazer e a necessidade de escrever.

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 30/05/2008
Alterado em 27/05/2010


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