Textos



Escolhas Conscientes

 
A consciência é muito bem educada.
Deixa logo de falar com aqueles que
não querem escutar o que ela tem a dizer.
Samuel Butler

 
E vamos parar de falar de política que este assunto já rendeu. Prefiro falar de escolhas. Ok. Política também envolve escolhas e, na maior parte das vezes, bem difíceis, pela má qualidade do material oferecido em todas as vertentes. Saudade das provas da escola quando a opção nda era considerada correta em casos assim. E ainda valia pontos.
Porém, falemos de outras escolhas. Como a que me levou a, de carro, empreender uma longa viagem de férias com o marido até o sul da Bahia, passando por estradas precárias, em especial no trecho de pouco mais de 300 km da BR 349. Havia trechos com tantos buracos que não era possível evitar todos e só nos restava escolher qual deles nos parecia menos nocivo. Como na política. Às vezes errávamos e o baque era forte. Como na política.
Depois dessa viagem cansativa que evidenciou o quão mal somos tratados por nossos escolhidos, chegamos ao paraíso. Uma praia linda, um hotel maravilhoso, acolhedor... Dias perfeitos nos esperam. E vem o viés do assunto que eu queria abordar: toda escolha implica em perdas e ganhos. Os de nossa viagem são óbvios, os da política, nem tanto, nem sempre. Mas somos obrigados a escolher.
Eliane Brum em seu texto “Todo Inocente é um FDP?” fala sobre escolhas. Mais. Fala sobre a dificuldade que temos de, hoje, fazer escolhas pouco conscientes. As informações estão aí. Sabemos que o consumo de carne, leite e ovos financia uma indústria cruel para com os animais e predatória para com o planeta. Sabemos que boa parte dos produtos que compramos envolvem testes em animais e trabalho escravo em sua linha de produção. Sabemos que homofobia, misoginia e racismo matam. Não nos é mais oferecido o benefício da ignorância para que sigamos consumindo sofrimento animal, para que nos sintamos confortáveis naquela roupa que tem sangue de crianças encravado em suas costuras, para que apoiemos políticos que não se posicionam contra a discriminação e em defesa das minorias.
Podemos até fazê-lo, porque entendemos que os ganhos das nossas escolhas superam o ranço dessa verdade impregnada nelas. Inocentes, não mais. Apenas indiferentes aos apelos da consciência.
Até quando?

 
Texto publicado na edição de hoje do jornal Alô Brasília.
Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 08/04/2016


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