Textos


O Avestruz e o Paraquedista

- Quer avestruz, mana?
- Claro! - respondo, a boca já salivando, antevendo o sabor e a maciez incomparáveis.
- Ah! Já conhece?
- Hum-hum! - confirmo, pegando um belo pedaço para pôr no prato. - Conheci quando o quilo da carne custava quase cem reais.
- Hum! Tá com a grana, hein!? - brinca meu irmão.
- Eu ganhei, seu bobo. - respondo, enquanto levo à boca um naco fornido do bife.
Assim que engulo, emendo a história de como conheci essa deliciosa iguaria:
Macarrão, um caro amigo, empolgado com as perspectivas de negócio, iniciava uma criação. Suas aves não eram para abate. Eram matrizes reprodutoras.
Num final de semana, os avestruzes estavam soltos no pasto, quando um paraquedista, em queda descontrolada, chocou-se contra os cabos de alta tensão que passavam sobre a fazenda. Com o impacto, eles se romperam, tocando o pasto, seco àquela época do ano, provocando um incêndio.
Os animais, que nunca assistiram desenho animado e não sabiam que o certo seria enfiarem a cabeça num buraco no chão, correram apavorados e jogaram-se contra a cerca de arame farpado. Alguns conseguiram escapar sem muitos danos. Mas, dois deles feriram-se mortalmente.
Lamentando a perda, Macarrão embalou a carne em porções de aproximadamente um quilo e trouxe para os colegas de trabalho na segunda-feira.
Naquela noite mesmo, preparei os bifes e, juro que se o preço não fosse tão proibitivo, teria corrido ao açougue mais próximo para comprar mais. Eu e o marido devoramos aquilo como se estivéssemos sem comer há dias. É uma carne vermelha, mas, muito mais saborosa do que qualquer picanha e bem mais macia do que qualquer filé mignon que já experimentei.
- E o paraquedista? - meu irmão interrompe minhas pantagruélicas lembranças.
- Você acredita que o filho da mãe caiu de paraquedas, sobre cabos de alta-tensão, ficou desacordado no meio de um pasto em chamas e só quebrou um braço?
- Cara de sorte! Pena que matou os bichinhos...
- Melhor assim. Se fosse o contrário, eu é que não ia provar carne de paraquedista!






Este texto faz parte do Exercício Criativo - Um Salto de Paraquedas
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.umsaltodeparaquedas.htm


É uma reedição do texto homônimo de 13/08/2008 - inspirado em fatos reais.
Hoje, eu não comeria nem mesmo os avestruzes, já que, desde 01/01/2012 me tornei vegetariana e meu irmão, em questão, é vegano desde meados de 2011.
 

Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 24/06/2013
Alterado em 24/06/2013


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