Textos



O Sítio Assombrado


Lucas mora com seus pais em um sítio muito arrumadinho, com milharal, pomar, horta, galinhas, porcos e cabras. Tem até uma vaquinha leiteira, chamada Mimosa.
No fundo do sítio passa um riachinho, onde a garotada gosta de pescar e nadar.
Não conta para ninguém, mas, às vezes, Lucas mata aula para ir brincar ali.
E, foi justamente num dia desses que tudo aconteceu. Depois de passar a tarde inteira nadando no riachinho, Lucas chegou em casa, e foi logo dizendo:
- Ai, mamãe! Tô c'uma fome! A janta já tá pronta?
Não estava, mas a mãe esquentou uma sobrinha do almoço e deu ao menino que logo jantou e foi dormir, dizendo-se muito cansado. Ele nem deu muita prosa para os pais, porque, se eles perguntassem da escola, ele teria que mentir e ele é um bom menino, não gosta de mentir.
Acontece que, de madrugada, Lucas acordou, com uma vontade danada de fazer xixi. Ele não sabia nadar muito bem, deve ter bebido muita água enquanto brincava no riacho. Agora, no meio da noite, ia ter que ir ao banheiro.
Ah, sim! Esse é um detalhe importante. O banheiro ficava do lado de fora da casa, perto do galinheiro. Eles chamavam de “casinha”.
Pois o Lucas ia ter que ir lá na casinha, do lado de fora de casa, pertinho do galinheiro em plena madrugada. E tinha que ir de fininho para não ter que explicar a ninguém que vontade danada de fazer xixi era essa, tão fora de hora.
Mas o pior de tudo, mesmo, era que Lucas tinha medo de assombração e aquela era uma noite muito escura, daquelas que o bicho papão mais gostava.
Lucas abriu a porta devagarinho para não acordar ninguém. Na mesma hora, ouviu um gemido assustador:
- Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
O coraçãozinho do menino saltou forte no peito e ele fechou a porta correndo, tapando a boca para não gritar.
O barulho parou. Lucas respirou, aliviado. Esperou um pouquinho, escutando atrás da porta.
Acho que o fantasma foi embora. - pensou.
E resolveu conferir. Abriu de novo a porta, só uma frestinha, para poder espiar. Pois, o gemido recomeçou:
- Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Lucas não quis saber de mais nada. Fechou a porta de uma vez e correu para o seu quarto, onde se enfiou debaixo das cobertas, tremendo de medo. Aos poucos, porém, foi se acalmando e começou a observar que o barulho não era muito diferente do que o vento fazia quando passava na pequena rachadura que havia na madeira da janela do seu quarto. Só um pouco mais alto. Será que é só o vento? - se perguntou. E, mais porque a vontade de fazer xixi tivesse aumentado do que por curiosidade ou coragem, o menino voltou à porta e tornou a abri-la, só um pouquinho. Imediatamente o uivo:
- Uuuuuuuuuuuuuu!
Mas, ele abriu a porta um pouco mais e, pronto! Não havia mais fantasma. O vento fresquinho passou livre pela porta aberta e não uivou mais.
O menino gostou de ver que o fantasma era só o vento e saiu da casa. Desta vez, ouviu um grito alto e soprado: ssssssiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuu!
- Ai, uma bruxa!. - ele exclamou, parando na varanda..
Chegou a pensar em fazer o xixi ali mesmo, mas e se os pais descobrissem? Já tinham ensinado a ele que essas coisas não se fazem... Não tinha escolha e, como o barulho tivesse parado, deu mais um passinho na direção do terreiro... Quase desmaiou de susto, quando uma coisa passou voando rápido, perto da sua cabeça, repetindo aquele barulhão: sssssssssiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuu!
Luquinhas se abaixou assustado. A bruxa não deu trégua. Passou de novo, a centímetros da cabeça dele. Ssssssssssiiiiiiiiiiiiiiiiiiuuu!
Foi aí que ele observou. A bruxa tinha penas. E aquele som não era de todo estranho, ele já tinha ouvido antes... Era só uma coruja. Já tinha visto uma quando esteve na casa do tio Antenor que gostava de contar histórias à noite, à beira da fogueira. Aliás, era justamente por causa das histórias do tio que ele tinha medo de assombração.
Aliviado, espantou o bicho sacudindo as mãos e retomou o caminho da casinha, pisando na terra batida da entradinha da casa. De repente, umas luzinhas começaram a dançar na sua frente... Lembrou-se que o tio havia lhe contado a história de uns diabinhos que vinham do outro mundo, buscar as almas penadas que estivessem perdidas por aqui. Como o Lucas não sabia direito o que era uma alma penada, achou que os diabinhos pudessem querer levá-lo com eles. Fez o sinal da cruz para se proteger e deu mais um passo à frente. As luzes logo o cercaram e estavam por todo lado, em volta dele. Ele apertou os olhinhos com força para tentar ver os diabinhos atrás das lanternas, mas o que viu mesmo foram um bichinhos esquisitos, como se fossem formigas com a bunda iluminada.
- Vagalumes! - ele riu do próprio medo, feliz por não ter que enfrentar diabinhos.
Lucas começou a achar uma bobagem todo aquele medo. Os barulhos que ouvira, as luzinhas que vira, nada mais eram do que o vento ou os bichos noturnos que havia por ali. E, cheio de coragem, continuou caminhando, agora apressando o passo, antes que fizesse xixi na calça.
Pois quando já estava quase chegando, bateu em uma coisa dura, quente, peluda, que soltou um grito grosso:
- Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuooooooooooo!
Era o que faltava para dar fim à coragem do menino. Luquinhas voltou correndo pra casa, gritando!
- Um monstro! Um monstro!
Os pais dele acordaram assustados com a gritaria e apareceram na varanda, já com o lampião aceso. Ele pulou no colo da mãe, chorando, enquanto o pai tentava entender o que estava acontecendo:
- Eu queria ir na casinha! - disse ele, soluçando - mas tem um monstro lá!
O pai levantou bem o lampião e iluminou todo o terreiro. Então, começou a rir:
- Veja, filho! É só a Mimosa que escapou do estábulo...
Ele olhou para onde o pai estava mostrando e riu também. Estava tão aliviado que nem vontade de fazer xixi estava sentindo mais.
Foi quando a mãe observou:
- Uai, filho! Por que seu pijama está todo molhado?

*****
Texto escrito para o 7° Desafio Literário da Câmara dos Deputados
Categoria Infantil - Etapa 2.
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Nena Medeiros
Enviado por Nena Medeiros em 11/05/2011
Alterado em 11/11/2011


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